São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Projetos mostram "roleta russa" da Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A vida íntima de 1.900 homossexuais e bissexuais está sendo rastreada por quatro projetos em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O objetivo é conhecer suas práticas sexuais, saber como se comportam, como pegam o vírus HIV e o que fazem para evitá-lo.
Três dos projetos já completaram dois anos. As conclusões preliminares revelam uma espécie de "roleta-russa" da Aids.
Treze participantes pegaram o HIV. A maioria relatou ter se exposto a risco, como a penetração anal sem camisinha e com parceiro desconhecido. Em alguns casos, no entanto, as pessoas disseram ter se descuidado uma vez. Em São Paulo, dois dos três voluntários que pegaram HIV eram cautelosos e tinham parceiros estáveis.
No grupo que não se infectou -quase 99% deles- estão voluntários que tiveram relações desprotegidas com inúmeros parceiros desconhecidos. Cerca de 6% deles disseram ter tido mais de 21 parceiros em seis meses.
Em todos os projetos há relatos de voluntários que tiveram até cem parceiros, a grande maioria deles desconhecidos. Metade dos voluntários informou ter praticado sexo com risco pelo menos uma vez. O número dos que pegaram HIV, no entanto, é considerado baixo.
Belo Horizonte ficou com incidência menor, 0,5%. São Paulo teve 1,8%, o Projeto Rio 3,5% e o Praça Onze, também do Rio, 4,0%. Nesse último caso, de cada cem pessoas acompanhadas durante um ano, quatro se infectaram.
A incidência depende do número de pessoas seguidas e do tempo de seguimento. O primeiro projeto iniciado foi o Bela Vista, de São Paulo, em agosto de 94. O projeto tem hoje cerca de 500 voluntários.
O Projeto Horizontes, de Belo Horizonte, começou um mês depois e acompanha cerca de 400 homossexuais e bissexuais. Até agora, apenas um se infectou.
O Projeto Rio, que também começou em 94, segue com 400 voluntários e já teve quatro casos. É o projeto com a mais alta prevalência, 23%. De cada cem pessoas que se apresentaram, 23% descobriram que estavam com HIV ao fazer o primeiro exame.
O Praça Onze começou em agosto de 95 e acompanha 592 pessoas.
Os três primeiros projetos fazem parte de um programa da Organização Mundial da Saúde com o Ministério da Saúde. O Praça Onze é financiado pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA.
Em todos eles, o objetivo inicial era preparar terreno para a avaliação de uma vacina contra a Aids. Para conhecer a eficácia de uma vacina é preciso saber quantas pessoas se infectam por ano em determinado grupo. Independentemente das vacinas, os projetos devem continuar como contribuição à "história natural da Aids".

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