São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Governo e igreja 'disputam' dados da pobreza

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

O número de crianças argentinas que buscam os refeitórios da entidade católica Caritas é hoje oito vezes o número registrado três anos atrás, passando de 50 mil a 400 mil.
A informação da entidade foi mal recebida pelo governo. O chefe de gabinete do país, Jorge Rodríguez, disse que a organização "em nenhum momento fez referência às contribuições que o governo realiza para a entidade Caritas".
O secretário de Desenvolvimento Social da Argentina, Eduardo Amadeo, duvidou dos 400 mil atendidos.
"O secretário devia se preocupar com os 2,4 milhões de crianças pobres, número que ele próprio divulgou", disse à Folha o titular da Caritas argentina, monsenhor Rafael Rey.
Cerca de 2,4 milhões de crianças no país não têm suas necessidades básicas satisfeitas, o que representaria 25% da população na faixa etária entra 0 e 14 anos.
"Enquanto houver desemprego, vamos continuar ampliando nossos refeitórios. Atualmente, nossos refeitórios. Atualmente são 1.080 em todo o país", disse Rey.
O país registra um desemprego que, segundo as últimas projeções, atinge 19% da população economicamente ativa. Existem hoje 2 milhões de desempregados -três anos atrás, havia 1 milhão.
A entidade Caritas foi criada pelo papa Paulo 6º e se instalou na Argentina na década de 60.
Nos últimos anos, aumentaram suas iniciativas, financiadas principalmente por instituições católicas, mas também por contribuições de governos europeus.
O empobrecimento dos argentinos vem crescendo continuamente. Os pobres são 26% dos habitantes da Grande Buenos Aires. A porcentagem chega a quase 50% em Províncias do norte.
"Não queremos ser apenas uma entidade assistencial. O combate à pobreza passa pela luta contra a indiferença da sociedade", afirma o monsenhor Rafael Rey.
O governo do presidente Carlos Menem e a igreja se distanciaram com a eleição da nova cúpula do episcopado argentino, há um mês. As críticas contra a política social e econômica se multiplicaram.
A Igreja Católica migrou para a oposição. O mesmo aconteceu com o sindicalismo, que na semana passada promoveu uma passeata contra o contrabando. Um conflito entre sindicalistas durante a manifestação junto à alfândega de Buenos Aires terminou com um operário ferido a bala.

Cerca de
2,4
milhões de crianças argentinas não têm suas necessidades básicas satisfeitas, segundo dados do governo

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