São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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ABSOLUTAMENTE RELATIVOS

O fabuloso (literalmente) repertório de teorias sobre a economia e sobretudo sobre a economia brasileira produzido nos últimos 50 anos está refletido na série de depoimentos que o Mais! publica hoje.
Entre as constatações surpreendentes está o fato de que a maioria dos economistas não pensava em ser economista. Matemáticos, advogados, engenheiros e até alguns economistas "por acaso" tornaram-se gurus da esquerda e da direita. E acabaram enfeixando em suas mãos poderes extraordinários, produzindo reformas, pacotes e moedas.
Outra constatação, mas não tão surpreendente, é que entre as sumidades o único consenso é que não há consenso. Praticamente todas as questões debatidas por décadas continuam em aberto. A economia é uma ciência? A teoria da "inflação inercial" é obra de alguém em especial? O papel do Estado, o futuro do Plano Real e mesmo o significado do passado são temas que continuam tão polêmicos quanto na época em que Adam Smith elaborou seus primeiros ataques aos mercantilistas.
Mas há sinais de esperança. Vários dos nossos grandes economistas já fazem abertamente sua autocrítica. Delfim Netto reconheceu que quando era "czar" tomou medidas que simplesmente dobraram o nível de inflação. Edmar Bacha admitiu que adotou teorias mais por motivação política do que por inspiração científica. Simonsen reconheceu a inutilidade das receitas do FMI, que ele tentava implementar, em economias indexadas como era a brasileira em seus tempos de ministro.
Roberto Campos, Luiz Gonzaga Belluzzo, Bresser Pereira, todos reconhecem agora em alguma medida que no passado houve exageros ou ingenuidades. A autocrítica dos economistas só não é maior porque todos continuam muito mais dedicados a se criticar mutuamente.
A ciência econômica, também no Brasil, revela-se como o campo do saber humano, em que tudo pode ser absolutamente relativo.

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