São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Orçamento mentira

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Algo de muito estranho se passa com a folha de salários do governo. O bolso do servidor não vê aumento há um bom par de anos. A inflação despenca desde 1994. E a folha, desafiando a matemática, cresce.
Há nos arquivos secretos de Brasília um documento revelador. Investigou-se a contabilidade das universidades federais. O conteúdo é de estarrecer.
O livro-caixa das universidades era uma farsa, eis o que salta dos papéis. Dava-se o seguinte:
1) as universidades chutavam para o alto a previsão de gastos com salário. Sabiam que, para o governo, contracheque é sagrado. Outras despesas podem atrasar. Salário, não.
2) A pasta da Fazenda, de boa-fé, abria o cofre. Soltava dinheiro bastante para cobrir a folha e gerar gordas sobras.
3) Por lei, a sobra deveria ser devolvida à viúva. Não era o que ocorria. As universidades embolsavam-na. Em seguida, torravam-na em outras despesas -da conta de luz à compra de equipamentos.
Assim, sem que soubesse, o governo dava com uma mão -a que paga os salários- tudo aquilo que cortava com a outra -a que poda o custeio.
A investigação pegou no pulo pelo menos quatro universidades federais: a do Acre, a do Pará, a do Ceará e a de Santa Catarina.
O desmonte do passa-moleque, no final de 95, levou pânico à academia. Súbito, a folha das universidades encolheu em R$ 200 milhões. Deve cair mais. Sem a mágica da multiplicação dos salários, os reitores estão em apuros. Para fechar as contas de 96, precisam de, no mínimo, R$ 142 milhões. Considerando-se os salários de todo o governo, porém, houve aumento de cerca de 12%. Em outubro, a folha global consumiu R$ 2,9 bilhões.
Feito por auditores do Ministério da Fazenda, o papelório confidencial de Brasília aconselha o mesmo remédio das universidades para outros órgãos públicos. Novas investigações virão.

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