São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Um balanço petista - 1

JOSÉ DIRCEU

Para avaliar o desempenho do PT nas eleições municipais e o Brasil que surgiu das urnas de 15 de novembro é necessário lembrar o cenário pré-eleitoral. Era um momento de ofensiva do governo FHC, de hegemonia da coalizão conservadora PSDB-PFL e seus aliados PMDB-PTB e início da dissensão malufista.
Durante o ano de 95, o imobilismo na questão social, o aumento do desemprego, a incapacidade política de fazer a reforma agrária, o Proer, a política de juros altos e a abertura indiscriminada quebrando setores inteiros da economia impuseram desgastes políticos à imagem do presidente e do governo.
No início do processo eleitoral, no entanto, dizia-se que o governo venceria de lavada, que as eleições seriam um plebiscito do Real, uma prévia para 98 e para a reeleição. A situação do PT e da esquerda era defensiva, de rearticulação, depois da derrota de 94 e do rolo compressor do Congresso no primeiro semestre de 95. A esquerda foi submetida -particularmente o PT- a verdadeira campanha de deslegitimação, com ampla cobertura e apoio da mídia.
O PT retomou a iniciativa no segundo semestre de 95. Apoiamos e priorizamos a luta pela terra do MST e a defesa de emprego, salário e direitos sociais dos trabalhadores. Criamos o Fórum das Oposições e enfrentamos a batalha das CPIs dos Bancos e da Previdência. Ampliamos nossas alianças políticas a todos que se opunham ao governo.
Começamos um grande esforço para expor à sociedade o modo petista de governar, na certeza de que tentamos e estamos realizando uma verdadeira renovação política e administrativa nas cidades que administramos.
Em contraposição ao fisiologismo, invertemos as prioridades para o campo social, para a luta contra a miséria e a exclusão, com ética e participação popular. Os exemplos estavam e estão aí, começando por Porto Alegre.
No primeiro turno, ninguém em sã consciência esperava que o PT e a esquerda se saíssem bem. Apesar do uso do poder político e econômico, da manipulação das pesquisas e do poder do governo federal, o PT conseguiu uma vitória eleitoral, política e moral em 3 de outubro.
Os resultados não deixaram dúvida. Foi o partido mais votado nas cidades de mais de 200 mil eleitores. O segundo nas cidades médias. Dobramos o número de prefeitos e vereadores. Fomos para o segundo turno em sete capitais. Nas cidades grandes onde não fomos para o segundo turno fizemos em média 20%. Foi uma vitória eleitoral.
O PT recebeu, como partido e legenda, um importante apoio político da sociedade. Consolidou-se como projeto nacional, credenciou-se como oposição e legitimou o modo petista de governar. A vitória moral veio com a criatividade, com a vontade política da militância e com o modo petista de fazer campanha: politização do debate, mobilização social, campanha militante. Quem não escolheu esse caminho pagou com a derrota eleitoral e política. A eleição trouxe de volta os comícios, as caminhadas, a estrela do PT e suas bandeiras, de Porto Alegre a Belém, de Campo Grande a Natal.
As eleições em 3 de outubro mostraram um Brasil jovem e urbano, insatisfeito com o desemprego e com os métodos políticos de barganha e fisiologismo dos partidos tradicionais. O PT e a esquerda ampliaram sua base social. Parcelas importantes das classes médias, de pequenos e microempresários apoiaram suas propostas e candidatos.
As urnas de 15 de novembro não anulam esses resultados, que ficaram aquém das expectativas da sociedade e do próprio PT. Elegemos os prefeitos de Belém e Caxias, amargamos a derrota de Ribeirão Preto e perdemos Santos, em parte fruto de nossas divergências internas, como havíamos perdido Diadema. Fomos literalmente roubados em Campo Grande e, com exceção de São Paulo, disputamos voto a voto em todas as capitais e cidades. Fizemos 18% dos votos nas 31 cidades que tiveram segundo turno. Obtivemos 3.150.927 votos e, em média, fizemos 42% nas 11 cidades que disputamos. Fomos o segundo partido em votos nas 31 cidades e também nas capitais, onde fizemos 2.757.766 votos.
Por isso, qualquer avaliação de que o PT saiu derrotado, demonstrou incapacidade para governar, para fazer alianças e manter sua unidade interna é equivocada. Nem o resultado do segundo turno, as divergências em Santos e Diadema, as disputas com o PSB e as derrotas em cidades que governávamos autorizam tal generalização.

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