São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Morte de Ralf transforma a novela 'Rei do Gado' em um típico 'whodunit'

MARIANA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os grandes autores da teledramaturgia brasileira concordam: a fórmula "whodunit" (quem é o culpado?) agrada, envolve o público e aumenta a audiência.
"O Rei do Gado", a novela de maior índice de audiência atualmente (54 pontos em média, cerca de 4,4 milhões de telespectadores só na Grande São Paulo), apelou à estratégia, quando o personagem Ralf (Oscar Magrini) foi assassinado em uma praia.
A morte de Ralf, apesar de prevista no início da trama, foi atrasada e pode ter sido usada como recurso para a novela global escapasse do tédio de flash-backs, clipes sertanejos e monólogos.
Segundo Benedito Ruy Barbosa, autor da trama, a morte do personagem já estava prevista (leia texto à pág. 5) e não foi criada para levantar a audiência.
"Pensei muito em não matar o Ralf, recebi muitos pedidos. Peso muito cada coisa, se não a trama perde o sentido", diz Barbosa.
Para o autor, "a novela é uma obra aberta. Às vezes um ator mal escalado não cria empatia com o público ou então você precisa criar uma expectativa com um crime bem bolado, como em 'Vale Tudo' (Odete Roithman) e 'O Astro' (Salomão Ayala)."
Lauro César Muniz diz que existe uma regrinha. "Se uma novela vai mal, um assassinato ajuda a resolver", afirma.
"É um recurso muito usado. Vai na linha da investigação, da curiosidade. Um crime pode recuperar uma trama. Claro que muitas vezes já está previsto", diz Walther Negrão.
Na opinião de Walter George Durst, o "quem é o culpado?" é "a fórmula mais elementar de segurar o público. É como marcar gol de pênalti."
Janete Clair, em "Véu de Noiva", exibida na Globo, em 1969, foi a primeira a recorrer a assassinatos, ao jogo de "quem matou quem", presente nos romances policiais.
Gilberto Braga, responsável pelo "quem matou Odete Roithman" em "Vale Tudo", é mais cauteloso. "Depende do crime. Quando a trama é boa, claro que ajuda. O importante é a história, interessante e bem realizada."
Braga acha que o público brasileiro gosta muito da fórmula "whodunit". "Mas os brasileiros não gostam do clima de 'film noir' das décadas de 40 e 50. A minissérie do Silvio de Abreu 'Boca do Lixo' era excelente e não chegou a estourar."
Muniz assume que já usou o artifício. "Quando assumi 'Quem É Você', a novela estava com audiência baixa, sem perspectiva. Muitas vezes a novela pede um assassinato."

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