São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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Ronald Biggs foi um Sex Pistols de meia idade

PATRICIA DECIA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Ele já era inimigo da rainha da Inglaterra antes dos Sex Pistols pensarem em escrever "God Save the Queen". Quando o rapaz da "classe trabalhadora" Ronald Biggs assaltou o trem pagador, sem saber, virou punk.
Provocando indignação nos súditos de vossa majestade até hoje, nada mais normal que Malcolm McLaren o convidasse para uma participação em "The Great Rock'n'Roll Swindle" (A Grande Farsa do Rock'n'Roll), gravado em parte no Rio.
Vieram ao Brasil, além de McLaren, os Pistols Paul Cook e Steve Jones. Julien Temple e um ator interpretando Martin Bormann -secretário de Hitler e um dos mais procurados nazistas-, também estavam aqui.
Nas três semanas em que estiveram juntos, Biggs, Cook e Jones cuspiram um na cara do outro, ficaram nus numa ilha próximo a Paquetá e foram ao desfile das escolas de samba.
Aos 67 anos, Biggs lembra o tempo com os Pistols como uma grande brincadeira. Depois de algumas cervejas, em sua casa no bairro de Santa Tereza (Rio), se anima até a cantar suas pérolas punk, "No One is Inoccent" (escrita para os Pistols) e "Punk Was", que fez durante a visita do grupo alemão Die Toten Hose e lhe rendeu um disco de platina.
Sobre "No One Is Innocent", Biggs diz: "Quis fazer uma música pedindo salvação para todos os perdidos, todos os vilões da história. Não foi ironia, fiz a música com seriedade. Acho que se você é cristão, tem que considerar a salvação para crápulas como Bormann, Idi Amim e eu".
Mas sua participação com a banda poderia ter sido maior. McLaren teria cogitado a possibilidade de levar Biggs de volta à Inglaterra para a gravação de um programa de TV, tirando-o do país de helicóptero antes que as autoridades aparecessem.
A história, que está no livro "I was a teenage Sex Pistol", de Glen Matlock, não chegou aos ouvidos de Biggs, mas, mesmo que chegasse, não teria muitas chances de se concretizar. "Eles são loucos. Eu não topava de jeito nenhum. Queria ver me tirarem de lá", disse.

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