São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Mestre quer visão periférica no Goiás

ARNALDO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um técnico inovador, estudioso, que aplica exercícios pouco comuns para ampliar o campo de visão dos seus jogadores e melhorar a velocidade dos reflexos deles.
Essa é a melhor definição para Paulo Gonçalves, 58, grande responsável pela campanha do Goiás, a surpresa do Brasileiro.
Ex-jogador, técnico desde 1971, professor aposentado da Universidade Federal de Goiás, com mestrado na França e especialização nos EUA -ambos em ciência do esporte-, Gonçalves usou conhecimentos teóricos e práticos para levar o time goiano às quartas-de-final do campeonato mais difícil do país.
Quando assumiu o Goiás, após as passagens de Cabralzinho e Valdyr Espinosa, a equipe ocupava apenas a 19ª posição na tabela.
Agora, após a vitória de 3 a 1 sobre o Guarani, o Goiás pode até perder o jogo de volta por um gol de diferença, domingo, em Campinas, que estará nas semifinais.
No início do próximo ano, Gonçalves vai lançar, com o oftalmologista Durval de Morais Carvalho, o livro "Estudo sobre a visão periférica no futebol", detalhando seus métodos de trabalho, como fez em entrevista à Folha.
*
Folha - Como um técnico desconhecido, como você, conseguiu levar um time modesto, como o Goiás, às quartas-de-final?
Paulo Gonçalves - Na verdade, não sou tão desconhecido assim. Sou técnico desde 1971. Já dirigi o Goiás sete vezes. Eles sempre me chamam nos momentos difíceis.
O problema é que meu trabalho não foi tão divulgado porque não tive uma sequência.
Sempre precisei interrompê-lo, por exigência da Universidade Federal de Goiás. Como me aposentei em junho, agora posso me dedicar somente à carreira de técnico.
Folha - Até que ponto a formação teórica, com mestrado e especialização em ciência do esporte, ajuda no seu trabalho?
Gonçalves - Ajuda muito. Para mim, foi fundamental ter estudado o futebol. Só assim, posso fazer meus jogadores entenderem a importância de se ter disciplina e respeito pela profissão.
Folha - E a parte prática?
Gonçalves - Também é fundamental. Por ter atuado no Atlético-MG até os 28 anos, quando precisei parar por contusões, também tive a experiência prática.
Sou um técnico teórico-prático, que usa um modelo misto.
Folha - Vários atletas que trabalharam com você dizem ter estranhado alguns treinamentos esquisitos e inovadores. No que consistem esses treinamentos?
Gonçalves - Eles devem estar falando dos treinos para aprimorar a visão periférica, tema do livro que lançaremos no ano que vem.
São exercícios para ampliar o campo de visão deles e aguçar seus reflexos. Visa corrigir os defeitos de fundamentos que eles têm.
Com esse tipo de treino, eles ficam independentes da bola. Não precisam mais ficar olhando fixamente para ela quando jogam.
Folha - A visão periférica, então, é o segredo do Goiás?
Gonçalves - Não posso dizer isso porque ainda não tive o tempo ideal para desenvolver o trabalho. São muitos jogos e viagens.
Trabalhei a visão periférica em outras equipes goianas, principalmente nas categorias inferiores.
Na verdade, ainda não pude aplicar totalmente meus conhecimentos. Espero que, no próximo ano, em Goiânia ou num outro centro, eu tenha uma chance real.
Folha - Falando do Goiás deste ano, como você explica a grande reação do time?
Gonçalves - Eu relutei quando fui convidado para assumir o time. Colegas me disseram que eu estava entrando numa barca furada, arriscando minha reputação.
Encontrei um ambiente tenso, mas logo tratei de recuperar a auto-estima dos jogadores. O trabalho psicológico é importante.
Valorizei a prata da casa e respeitei a característica ofensiva dos atletas. Assim, jogadores como Romeu, Reidner, Evandro, Lúcio e Dill passaram a se destacar.
Folha - Dá para pensar em título brasileiro ou você já está satisfeito com a campanha que fez?
Gonçalves - Sem presunção, acho mesmo que podemos conquistar o título. Digo sempre aos jogadores: já que a porta se abriu, vamos entrar com tudo!

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