São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Fábula fabulosa

JUCA KFOURI

Fique de olhe nesse suspeitíssimo inquérito que o desmoralizado Tribunal de Justiça da CBF abriu a pedido do presidente da entidade, que agora diz querer transparência no futebol.
O juiz do jogo Bahia 3 x 2 Vasco, Marques Dias da Fonseca (GO), teria sido visto por uma aeromoça contando dinheiro no avião de volta entre Salvador e Goiânia. A dita comissária de bordo, que deveria ser detetive, esperta e enfronhada nos meandros do futebol, não só relatou o episódio a um membro da comissão técnica vascaína como, provavelmente, viu que o dinheiro estava carimbado com o distintivo do Bahia.
Ora, é tão óbvio que nesse inquérito pode estar a chave para a permanência do Fluminense na primeira divisão, por meio de uma punição ao Bahia, que salta aos olhos a jogada engendrada, talvez, pelos mesmos que, como Eurico Miranda, propõem agora a formação da liga nacional para manter o Flu entre os grandes.
A CBF morre de medo da liga e avisa que a Fifa não a reconhecerá, embora não tenha agido assim com todas as ligas criadas pelo mundo afora.
Se o Flu ficar na primeira divisão por causa de uma punição ao Bahia, tudo estará resolvido, por medida da própria CBF. Parece até uma armação maquiavélica demais, sem dúvida, embora menos engenhosa que a história da aeromoça.
Basta pensar um pouquinho. Você já recebeu um troco que seja e deixou para contar o dinheiro mais tarde? Ou vendeu alguma coisa em dinheiro vivo e não conferiu na frente do comprador? Por que, então, o juiz checaria depois, e num lugar público!, o dinheiro ganho desonestamente?!
E como a zelosa comissária sabe a origem do dinheiro? O juiz fez alarde da rapinagem??!! Aliás, voltando ao começo desta fábula, a singela declaração de Ricardo Teixeira, ao pedir transparência, transforma qualquer drama em comédia.
Que tal, então, contar à opinião pública o tamanho da comissão que a Nike pagará para ser a marca oficial da seleção brasileira? Ou em que termos se deu o acordo de sociedade para lançar o tal Bolão da Seleção?
Antônio Pithon, novo presidente do Bahia, não é do esquema de Teixeira, o que, certamente, explica tudo.
Fique de olho, portanto, apesar de, cá entre nós, ser coisa apenas para acalmar o Fluminense. Não passará.

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