São Paulo, sábado, 30 de novembro de 1996
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Designer de 89 anos é destaque de evento francês

CARLOS PERRONE
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM ECHIROLLES

Termina hoje o Mês do Grafismo de Echirolles, irmã mais nova de sua vizinha, Grenoble. Cerca de dez exposições chegam ao fim, mas algumas tornam-se permanentes e circulantes.
O evento, dirigido por seu criador, o secretário da Cultura da cidade, Diego Zaccaria, francês de origem siciliana, é patrocinado por fundos públicos e privados.
A palavra graphisme tem conteúdo mais amplo do que a expressão design gráfico. Na verdade, mais que um evento de design, é uma discussão ilustrada sobre cidadania e imagem.
O cartaz oficial, de Michel Bouvet, coloca visualmente o encontro ruidoso do design dos escritórios com o grafismo dos muros, jornais e cartazes do percurso urbano.
Sem arriscar dizer o que foi mais importante ou melhor, declaro-me atropelado pelas imagens das mostras de Raymond Savignac (89 anos) e Claude Baillargeon (47 anos): o primeiro desenha o século, e o segundo, o fim de século.
Savignac, internacionalmente conhecido e já fazendo parte da história da representação gráfica, concilia, com seus cartazes de grande formato, a arte e a publicidade, o comércio e a cultura. Pólos que se confrontam nas agências, dilema atormentador dos profissionais, tudo isso se desfaz e se refaz com bom humor, cores primárias e idéias fortes nos desenhos de Savignac: beleza pura e literal.
Baillargeon passa longe da polêmica que coloca de um lado a expressão de conteúdo político, "nacional & popular", e do outro a produção cultural centrada na revolução da linguagem, "alienada e elitista". Claude Baillargeon faz as pazes entre política e cultura, entre a sofisticação de imagens perturbadoras e seu diálogo com as ruas.
Roland Barthes sobre Raymond Savignac: "Savignac usa um léxico simples que poderíamos chamar de língua cotidiana da imagem". Savignac sobre ele mesmo: "é preciso desenhar grosso, o que não quer dizer grosseiramente".
Comparando seus próprios desenhos com ideogramas, tem em seu discurso verbal a mesma clareza e contornos fortes de seu traço, como pudemos ver no documentário exibido no auditório de La Rampe, em Echirolles.
Savignac abre uma janela de luz sobre coisas encrencadas: "Se o cartazista é o pai do cartaz, seu tio é o anunciante, o cliente. Sem sua aprovação, o cartaz fica dentro da pasta, como um feto dentro do vidro".
Baillargeon é político, e político é quem reflete sobre a sociedade. Na abertura da exposição "Imagens na Biblioteca Grand Place", em Grenoble, disse poucas palavras: "Perguntam-me o porquê da presença da política em minhas imagens; ora... todas as imagens da publicidade também são políticas!".
Trabalhando basicamente em preto e branco, reserva à quadricromia entrada menor, mas estonteante, como "guest star" que rouba o filme. São cartazes para as ruas das cidades, de base fotográfica e tratamento gráfico: ele se define como fotografista.
Baillargeon nega que vivamos no século das imagens, diz ser esta a época dos estereótipos, em que a multiplicação das imagens não gera riqueza, mas sim empobrecimento do mundo visual.
Imprescindível citar a maravilhosa exposição Don Juan, Macbeth, Carmen... Pére Ubu Et Les Autres, que teve a curadoria de Eric Fanchère, talentoso designer de Grenoble. Cartazes de diferentes autores e vários países, mas referentes à mesma peça de teatro, são agrupados, gerando um discurso que obriga o olho a pensar.
O Mois Du Graphisme, cuja próxima edição será daqui a dois anos, terá uma ponte gráfica em 1997, uma grande exposição sobre o design gráfico chinês contemporâneo.

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