São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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Acéfala, Lusa leva Cruzeiro em banho-maria

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se, nesse mata-mata, cada jogo tem quatro tempos e 180 minutos de duração, pode-se dizer que a Lusa cumpriu dois tempos espetaculares e que os dois subsequentes serviram apenas para preservar a imagem e o resultado iniciais.
Na quarta-feira, não só bateu o favoritíssimo Cruzeiro por 3 a 0, como deu um show de bola; no sábado, simplesmente tratou de evitar a virada e perdeu de 1 a 0, garantindo sua ida para as semifinais.
Mesmo assim, no contragolpe, sobretudo depois dos 30 minutos do quarto tempo, acumulou chances para selar sua classificação de goleada, com três gols perdidos por Alex Alves e Flávio.
O que mudou de um dia para o outro? Não só sua posição de início, livre-atirador; principalmente, a ausência de um armador capaz de executar com perícia os contra-ataques; Zinho, que entrou e saiu, sem condições físicas; Zé Roberto, suspenso, e Caio, inexplicavelmente disperso.
Contudo, se a Lusa não tinha um cérebro no meio, tratou desde o início de anular o sistema de criação do Cruzeiro, resumido a Palhinha. Capitão, sem dar um pontapé, colou em Palhinha e matou qualquer esperança que porventura pairasse no azul estrelado.
Isso, mais a evidente queda de força muscular e anímica desse Cruzeiro, que, no momento decisivo, sentiu o peso insuportável de ter sido tantas vezes campeão em tão pouco tempo.
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Neste momento de glória extemporânea, baixa um sentimento sebastianista na gente lusitana.
E o dom Sebastião desaparecido nas areias do deserto ou no mar revolto, no futebol d'aquém-mar, é aquele time que navega na bruma da memória, nos idos de 50: Muca, Nena e Noronha; Santos, Brandãozinho e Ceci; Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão.
Ontem, tomei essa nau fantasma e vim singrando os mares rubro-verdes até aqui, colhendo, pelo caminho, os escolhos de glórias passadas.
Com eles, construí este mosaico que revela a grandeza lusa avançando nas tempos seguintes : Félix; Djalma Santos, Marinho Perez, Brandãozinho e Zé Roberto; Lorico, Ipojucã e Enéas; Julinho, Servílio e Ivair. Técnico: Candinho.
Aí estão representadas as quatro décadas de um rei vivo.
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Já o clássico de ontem, entre Palmeiras e Grêmio, resumiu-se aos dez minutos finais. Até então, o Palmeiras, que precisava reverter os 3 a 1 tomados de virada em Porto Alegre, parecia conformado com a situação. Jogava como se estivesse cumprindo tabela.
Ao Grêmio restava manter a vantagem, no que, aliás, é mestre. Mesmo depois do gol de Elivélton, perto dos 35min, quando o Palmeiras, só então, deu um breve sinal de vida, que se apagou com o apito final do juiz.
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Juntando-se ao Grêmio e à Lusa o Atlético-MG e o Goiás, viramos a tabela de cabeça pra baixo: os piores serão os melhores, como num dizer bíblico.
Assim seria se tivéssemos um Campeonato Brasileiro. Não temos. Temos dois torneios. Um, que foi vencido pelo Cruzeiro. Outro, que classificou para as semifinais, com toda a justiça, Grêmio, Portuguesa, Goiás e Atlético-MG.

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