São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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A intolerância pública

ROGÉRIO SIMÕES
EDITOR INTERINO DE OPINIÃO

O Spacehog era o azarão do Close Up. Banda nova, sem grandes sucessos e bem menos pesada do que as outras que se apresentaram no Ibirapuera, a tarefa dos rapazes ingleses era conquistar o público com sua performance.
Mas, logo que pisaram no palco, estava claro que o objetivo não seria alcançado. Não que os músicos fossem ruins ou mesmo desanimados. E suas músicas estão longe de ser uma tortura para qualquer um que admire um rock básico. Mas o insatisfeito público provou não merecer metade da boa vontade que a banda demonstrou.
Embriagados com refrigerante e cachorro quente -o máximo que as autoridades paulistas permitem para um show de rock em um estádio-, os jovens que fingiam ser punks atiravam sobre o palco tudo o que estava ao seu alcance.
O que acabou destacando a participação especial de dois importantes membros do Spacehog: os "roadies" que corriam para retirar copos de plástico e secar a água espalhada por eles.
O show em si pode ser classificado como razoável. O som do Spacehog remonta a uma ala de estrelas dos anos 70 que não era nem muito pesada nem muito comercial, uma mistura dos bons tempos de David Bowie com os momentos mais trágicos do Uriah Heep.
O gongo que o baterista Jonny Cragg tinha às suas costas -componente essencial para qualquer baterista dos anos 70 que quisesse aparecer- era o que melhor exemplificava o estilo do grupo.
Contra as suas próprias limitações e a infantil intolerância da platéia, o Spacehog demonstrou grande profissionalismo e alguns momentos verdadeiramente bons, como nas canções "In the Meantime" ou "Spacehog".
Resta saber se o público merece um festival que tente mostrar um mínimo de ecletismo musical, além de colocar o país em contato com grupos pouco conhecidos.
O Spacehog fez a sua parte. Não é certamente uma banda nota dez, mas venceu com folga a estupidez dos que o hostilizavam. Placar final: Spacehog 5, público 0.

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