São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Exportações medíocres

CELSO PINTO

Há uma curiosa discussão no país em torno das exportações. Fala-se em ganhos de produtividade, desimportância do câmbio, planos de grandes empresas para ampliar as vendas externas, mas poucos prestam atenção aos números, onde todo esse otimismo deveria estar refletido.
Até novembro, as exportações cresceram menos de 3% em relação ao ano passado e deverão fechar o ano nesse padrão. Em abril, a taxa anual de crescimento das exportações chegou ao pico de 8,5%. Desde então, caiu sem parar, coincidindo com a retomada do crescimento da economia. As exportações de manufaturados estão em queda, se considerado apenas o segundo semestre.
Os países asiáticos sofreram uma queda substancial das exportações neste ano, que gerou muita discussão entre analistas internacionais. Mesmo assim, suas exportações vão crescer, em média, 13% neste ano. As exportações do México devem crescer 15%, as da Argentina, 9,5%, e as da Venezuela, 16%, para citar alguns exemplos. Ou seja, o Brasil, mais uma vez, vai perder espaço relativo no mercado mundial, deixando de aproveitar outro ano favorável de expansão do comércio internacional.
Olhando os dados do volume exportado, sem considerar os preços, a média móvel de 12 meses está virtualmente parada desde o início do ano passado, como mostram dados da MB Associados. No caso dos manufaturados, o volume exportado caiu 21% do final de 94 ao final do ano passado, antes de se recuperar 9%.
As exportações se mantiveram em discreta alta pelo impacto dos preços. No ano passado, os preços dos semimanufaturados e manufaturados dispararam, enquanto os dos primários caíram. Neste ano, ocorreu o oposto: os primários dispararam enquanto manufaturados e semimanufaturados recuaram. No final, as exportações devem fechar em torno de US$ 47,8 bilhões, prevê um grande banco, com um ganho irrisório de 2,8% sobre o ano passado.
E o que nos espera em 97? Na área das "commodities", algumas notícias são pouco alentadoras.
Na análise desse mesmo banco, três produtos importantes na pauta brasileira, café, soja e suco de laranja, estão com previsões de quedas de preço no próximo ano, em função da expansão da produção mundial. Algumas projeções para o alumínio também indicam uma queda de 5% nos preços. Laminados de ferro e aço, da mesma forma, estão com projeções de menores preços em 97. O petróleo, que o Brasil importa, deverá registrar um aumento expressivo no preço médio de 97 sobre o de 96.
Existem também, é claro, algumas boas notícias nas exportações. A celulose, cujo preço caiu de US$ 900 por tonelada no ano passado para US$ 350 neste ano, pode chegar a US$ 560 em 97, segundo essa projeção. Embora a soja deva perder preço, o óleo de soja poderá ganhar, assim como o fumo.
Aumentará o volume de soja exportado, e o efeito da isenção do ICMS sobre as exportações deverá fazer com que aumente a quantidade de exportações de soja triturada, em detrimento do farelo. O problema é que, se for confirmada a queda nos preços, parte do aumento na quantidade será anulado em termos de receita. Esse banco prevê, ainda, aumento nas exportações de frango e de calçados.
Tudo somado, a projeção é de um aumento de 5% para as exportações em 97, para algo em torno de US$ 50,5 bilhões. Isso, mesmo depois de considerado o impacto da isenção de ICMS e das novas medidas de estímulo à exportação, como as linhas de crédito aqui e para importadores de produtos brasileiros.
É uma expansão medíocre. Do lado das importações, é mais difícil projetar, dadas as mudanças estruturais na economia brasileira. Esse banco acha que as importações fecharão em torno de US$ 52,7 bilhões este ano, um aumento de 6%, muito forte se descontado o inchamento das importações de automóveis no ano passado e o fato de que a economia ficou estagnada no primeiro semestre. Para o próximo ano, as importações iriam para perto de US$ 60 bilhões, crescendo 14% e elevando o déficit da balança para US$ 9 bilhões.

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