São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Produção não basta, afirma traficante

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PETROLINA (PE)

O condenado por tráfico de drogas C.S. (nome fictício) afirmou à Agência Folha que, apesar da grande produção de maconha de Pernambuco, a safra é sempre menor que a procura dos grandes centros consumidores.
A entrevista foi concedida em Petrolina, onde C.S. diz que vai cumprir, em liberdade condicional, os cinco anos que restam de sua pena. Ele foi preso com um carregamento de 500 kg da droga.
Ele não revela como, mesmo preso, arrecadou R$ 50 mil para pagar o advogado que conseguiu a sua liberdade condicional.
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Agência Folha - É possível sair do tráfico depois de fazer parte dele?
Resposta - Não é fácil. Mas não posso mais me envolver em nada que seja hediondo. Se fizer isso, é porque sou burro e quero acabar com minha vida de vez.
Agência Folha - Qual a relação da maconha com os assaltos e o alto índice de assassinatos na região?
Resposta - Nos últimos dez anos, o pessoal daqui trocou muita maconha por armas pesadas vindas das organizações criminosas do Rio de Janeiro. Quando eles não conseguem passar maconha porque o cerco da polícia está grande, continuam buscando dinheiro fácil partem para os assaltos. Mas é por pouco tempo. Os pedidos de maconha não param. Quanto mais se produz, mais sai.
Agência Folha - Dizem que a maconha é sentimental e avisa quando a polícia vai chegar.
Resposta - Isso é uma verdade para nós. A maconha tem um espírito e passa isso para todos.
Agência Folha - Por que só traficante lucra com a maconha?
Resposta - Só quem se beneficia da maconha é o traficante. Os peões são escravos. Ficam quase cinco meses dentro da lavoura e, quando saem, nada têm no bolso. Agência Folha - Como conseguiu o dinheiro para pagar o advogado?
Resposta - Quando caiu o meu segundo caminhão carregado, vendi tudo que tinha e consegui juntar R$ 65 mil, que usei para pagar o advogado na fase do processo. Mas tive sorte. Mesmo dentro da cadeia, consegui ganhar R$ 50 mil, que dei para o advogado conseguir a condicional.

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