São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Polícia Federal quer descobrir os bens de famílias produtoras

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CABROBÓ

Segundo o superintendente da Polícia Federal de Pernambuco, Wilson Salles Damázio, seu departamento está traçando um plano para eliminar os cartéis de droga formados por famílias de falsos comerciantes e agricultores da região do "Polígono da Maconha".
"Estamos desenvolvendo um trabalho de inteligência para combater esses cartéis. Os ricos da maconha servem como estímulo para o envolvimento de pessoas mais humildes, e isso tem de acabar."
Depois de ter erradicado quase 10 milhões de pés de maconha nesta década e não ter conseguido reduzir a área cultivada na região, a PF pretende agora atuar com um serviço de levantamento dos bens dos integrantes dos cartéis.
Para isso, segundo o superintendente, é necessário criar uma delegacia da PF com 25 agentes na região e fazer um trabalho conjunto com a PM pernambucana.
"A região se transformou em um caldeirão de pólvora porque o plantio de maconha é ponta de lança para o ingresso da cocaína e crack, de grupos organizados do Rio de Janeiro que, acostumados com o dinheiro fácil do tráfico, partem para assaltos a cargas, ônibus urbanos e carros de passageiros", afirmou.
Levantamentos feitos pela PF apontam que um hectare de maconha dá um lucro 200 vezes maior que o cultivo de qualquer outra cultura adaptável à região.
Ainda segundo a PF, o plantio da droga foi disseminado no início da década de 80, quando houve o chamado "Escândalo da Mandioca".
O "Escândalo da Mandioca" envolveu recursos do Banco do Brasil, que tentou subsidiar plantações de mandioca na região.
Porém, os produtores fizeram saques elevados no BB, não plantaram mandioca e proporcionaram um dos maiores calotes da história do banco, alegando que haviam perdido suas plantações devido a problemas climáticos.
"Com a descoberta da fraude, o BB suspendeu todas as operações de crédito para os agricultores locais. Daí, entraram em cena os traficantes, que financiaram as lavouras de maconha, dando sementes, irrigação, defensivos agrícolas e prometendo 50% do lucro."
Sofisticação
Levantamento da PF sobre localização e destruição de pés de maconha na região produtora mostra que 40% dos pés erradicados nessa década estavam em terras devolutas (devolvidas ao Estado), e o restante, em propriedades privadas.
Neste ano, apenas cinco fazendas foram expropriadas, e o governo quer destiná-las para a reforma agrária. Outros cem processos tramitam na Justiça pernambucana.
As últimas apreensões de maconha já pronta para o consumo mostram que os produtores locais estão copiando os produtores paraguaios e prensando a droga para facilitar o transporte.
Até o ano passado, não havia apreensão de maconha prensada na região. A droga era vendida em cachos.
Mas isso mudou. A PF já chegou a apreender um "tijolo" de maconha com 40 quilos. Porém, geralmente, a maconha é prensada em "tijolos" de um a três quilos.
"Foi uma novidade para nós apreendermos 90 quilos de maconha prensada aqui nos últimos quatro meses", diz o delegado de Cabrobó, Aécio Francisco Coelho.

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