São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Hormônio é arma masculina contra idade

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A corrida contra os estragos que o tempo provoca no organismo virou preocupação no Brasil. A manutenção da juventude foi eleita o valor maior deste final de milênio.
Malhar mais, comer melhor e mudar de hábitos já não bastam mais. É preciso submeter-se a check-ups, dosagens sanguíneas e engolir comprimidos e comprimidos. Até agora, eram dietas à base de vitaminas e sais minerais.
A última novidade em aditivos contra o envelhecimento é um coquetel de hormônios.
Vinte anos depois de provar que a reposição hormonal é benéfica para a mulher, a medicina experimenta os efeitos desta reposição nos homens.
Testosterona, hormônio do crescimento, melatonina e DHEA -um indutor de hormônios- já são termos ouvidos tanto nos consultórios como nas academias.
As providências para retardar o envelhecimento não se limitam mais a recauchutagens. Clínicas e consultórios estão oferecendo checagens completas muito antes do tempo estimado para as primeiras revisões, a idade dos 40.
Em algumas clínicas, como a Ana Aslan, a idade média de metade da clientela baixou para os 30 anos. Nos consultórios que oferecem a medicina biomolecular -que se auto-intitula medicina preventiva- 50% dos pacientes têm hoje entre 25 e 35 anos.
Estoque esgotado
A febre do "jovem eterno" lota consultórios e esvazia as prateleiras de "lojinhas" de vitaminas importadas. Uma única loja no Shopping Eldorado tinha na sexta-feira 80 clientes esperando pelo indutor de hormônio DHEA.
Em quatro outras lojas consultadas, o estoque tinha terminado. Novas remessas importadas chegariam nas próximas semanas. A venda do DHEA ainda não foi autorizada pela Vigilância Sanitária. A melatonia está proibida.
Nas cinco clínicas Ana Aslan -três delas na Grande São Paulo- passam por mês mais de 1.200 pessoas. O movimento é duas vezes maior que cinco anos atrás. Na semana passada, a agenda das vésperas do Natal, considerada tranquila, estava lotada na clínica de Alphaville, na Grande São Paulo.
Aos 40
A Sociedade Brasileira de Medicina Biomolecular e Radicais Livres, fundada há apenas três anos, já tem hoje 1.400 médicos associados. Em 1994, foi criado um comitê multidisciplinar de medicina biomolecular dentro da Associação Paulista de Medicina (APM).
"Há cada vez mais pessoas preocupadas em se manter saudáveis", afirma José de Felippe Júnior, 49, presidente do comitê biomolecular da APM. É na esteira dessa procura que estaria crescendo o número de médicos e clínicas que se dedicam ao tema.
Até mesmo a tradicional geriatria rejuvenesceu. Não é mais vista apenas como a "parte da medicina que trata das doenças dos velhos", conforme se lê no Aurélio.
"As pessoas estão nos procurando aos 40, quando constatam que estão vivendo de forma estressante e o corpo está dando sinais de cansaço", diz o geriatra João Toniollo, do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A preocupação da maioria dos pacientes é manter a saúde, não apenas curar as doenças.
"A geriatria é a grande especialidade do presente", diz Norton Sayeg, 46, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria. Um número cada vez maior de clínicos está procurando os cursos da sociedade, buscando a especialização. "O número de membros da sociedade vem aumentando 30% a cada ano", afirma Sayeg.

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