São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Homem avulso é melhor que namorado

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas até acreditam em namoro firme, amor eterno, príncipe encantado e homem que promete ligar. Mas não costumam ficar em casa esperando por nada disso.
Em vez de alimentar expectativas, essas mulheres mantêm "séquitos" de homens avulsos para programas isolados (cinema, praia etc) e estepes para emergências.
"São amigos íntimos ou antigos namorados que estão sempre por perto", explica a empresária Ester Leclair, 34, que no momento conta com pelo menos três deles.
Ela diz que morou 16 anos nos EUA e que lá é muito comum a idéia do "one night stand" (companheiro por uma noite só).
"É aquele cara que a gente já conhece, tem afinidade intelectual ou na cama, e com o qual não há perda de tempo", diz.
Ela é a favor da "otimização do momento". "Todo mundo trabalha muito, as pessoas vivem ocupadas", diz. "Quando há um intervalo, melhor aproveitar bem do que alimentar frustração."
Ester acredita que, no Brasil, a maior parte das mulheres ainda esperam o tal príncipe.
"Há umas que ficam ao lado do telefone, olhando para ele, e depois cobram do cara a promessa da ligação", diz. "Quando ele foge, elas não entendem por quê." (leia depoimento ao lado)
A fugitiva
No caso da pára-quedista Cuca Oliveiros, 32, quem foge é ela. "Mantenho vários estepes justamente para não colocar todas as expectativas em um homem só."
Cuca afirma que essa distribuição de expectativas diminui a ansiedade e aumenta o retorno.
"Quando você pensa que está esperando demais por um, o outro liga", garante.
Ela acredita que, quanto mais se espera, menos eles ligam.
"Se você tem várias possibilidades, é mais fácil alguma acontecer, porque não dá para pensar em todas com a mesma intensidade."
Essa é também a teoria da produtora Daniela Trondi, 30. Atualmente ela mantém quatro amigos "faz-tudo" para emergências.
"Todo mundo está sujeito a crises de carência", diz. "Quando acontece comigo, procuro alguém que resolva o problema naquele momento. Não dá mais para querer as pessoas para sempre."
Daniela divide os "faz-tudo" por categorias. "Tem um para ir ao cinema, outro para me acompanhar em viagens, o bom de cama etc."
Ela diz que seus amigos não sabem um do outro nem querem saber. "É para ser uma coisa leve, sem desgaste", explica.
Se aparece uma nova paixão, Daniela afirma que seus quatro amigos fixos ajudam muito. "Eles me acodem em caso de desespero."
"Não estou podendo"
A professora de inglês Marta Mello, 31, gosta de namorar fixo, mas não tem tido tempo.
"Sou do tipo que larga tudo por um grande amor, mas não estou podendo agora."
Ela trabalha também com atendimento a passageiros no aeroporto de Cumbica e sobram-lhe poucos dias de folga por mês.
Nessas ocasiões, como tem facilidades, viaja para fora. "Minha vida social acontece no exterior."
Nas viagens, Marta pratica o que chama de "flerting" (paquera). "Gosto de conquistas", diz.
"Nada que ameace a minha integridade pessoal ou me coloque no grupo de risco. Só brincadeiras. Costumo dizer que sou uma 'kisser' (beijoqueira)."
Como está sempre indisponível, Marta desperta muitos interesses.
"Os homens dão mais valor a mulheres ocupadas", afirma. "Ficam atrás mesmo."

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