São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996 |
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Experimentalismo 'diário' seduz Sacchi
SÍLVIO LANCELLOTTI
No posto desde a noite do domingo, depois da demissão do uruguaio Oscar Tabarez, Sacchi vivia um momento de inúmeros transtornos da direção da seleção da Itália. Sabia que Luciano Nizzola, o futuro presidente da Figc (federação italiana de futebol), não pretendia mantê-lo no cargo. Na seleção, curiosamente, Sacchi ostentava um currículo excelente: 34 vitórias e 11 empates em 53 partidas, mais de 64% de aproveitamento. Não tinha conquistado nenhum título, porém. Pior, um experimentalista, havia convocado, desde novembro de 1991, a bagatela de 93 atletas diferentes. O posto em risco, o mister abandonou um salário de quase US$ 3 milhões ao ano pela segurança da agremiação que o consagrara entre 1987 e 1991. Esta entrevista, depois da derrota, surpreendeu pela serenidade do treinador. * Folha - Primeira batalha, primeira derrota... Arrigo Sacchi - Sou culpado, eu também. Sem álibis, porém, não posso deixar de lembrar que recém-cheguei. Herdei problemas e problemas anteriores. Folha - A imprensa italiana acusava Tabarez de pouco pulso no relacionamento com os jogadores. E o sr. voltou ao Milan com carta branca. Quis mudar, até mesmo, o horário do jantar dos jogadores. Sacchi - Tenho as minhas idéias. Jamais abri mão delas. Folha - No entanto, o capitão Baresi, seu amigo, foi contra... Sacchi - Sim, com argumentos lógicos, que não interessa discutir. Folha - O sr. retornou ao Milan, cinco anos depois, com faixas de saudação. Na quarta-feira, porém, San Siro aplaudiu o Rosenborg... Sacchi - Aplaudiu quem venceu meritoriamente. Nada mais natural. Folha - O sr. tirou Roberto Baggio da seleção. Como foi o reencontro? Sacchi - Cheio de afeto e simpatia -e outras observações... Folha - De que tipo? Sacchi - Pessoais, particulares, e confidenciais... Folha - Contra o Rosenborg, Baggio foi substituído no intervalo... Sacchi - Sim, uma decisão técnica, que cabe ao treinador tomar. Folha - Por que o sr. deixou a seleção e voltou ao Milan? Sacchi - Eu sentia muita falta do trabalho diário com os jogadores. Na seleção, eu já não me considerava tão feliz como nos meus velhos tempos de clube. Folha - Pesou a ameaça de demissão pela diretoria da Figc? Sacchi - Não. Eu tinha um contrato rigoroso, até julho de 1998. Folha - Pesou algum apelo do presidente do Milan, Sílvio Berlusconi? Sacchi - Não conheço nenhum outro dirigente que consiga estimular e energizar, tão fortemente, uma pessoa do seu ambiente de trabalho. Folha - E agora, o Milan eliminado da Copa dos Campeões? Sacchi - Não sou um mago, mas meu trabalho ainda não começou. Folha - E a seleção, abandonada às vésperas de enfrentar a Inglaterra? Sacchi - Deixei a seleção com seis pontos em duas partidas. Quanto ao jogo contra a Inglaterra, desejo sorte ao meu sucessor. Folha - Fica alguma mágoa dos seus tempos de seleção? Sacchi - Fica uma medalha de prata, que eu conquistei na Copa de 1994, nos EUA, quando só perdi do Brasil nos pênaltis. Texto Anterior: Clube tem 74% de sócios inadimplentes Próximo Texto: Havelange diz que deixa a Fifa em 1998 Índice |
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