São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996 |
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Homem de Cro-Magnon era mais religioso do que artista
DO "LIBÉRATION"; DA REPORTAGEM LOCAL Alguns dos autores das imagens das cavernas trabalharam há cerca de 30 mil anos, mas já eram homens como os atuais: Homo sapiens sapiens, com alguns traços físicos um pouco mais grosseiros. Ficaram conhecidos como homens de Cro-Magnon (pronuncia-se "crô-manhom").Eles chegaram a Europa pelo leste, talvez vindos da África pelo Oriente Médio, na época em que começava a desaparecer o homem de Neandertal (Homo sapiens neanderthalensis), provavelmente um primo menos hábil e adaptável do homem moderno, de traços faciais grosseiros -ou menos grácil, como dizem os paleontólogos-, extinto há cerca de 35 mil anos. Além de imagens em pedra, os primeiros sapiens sapiens deixaram sepulturas, pequenas estatuetas em pedra, osso ou marfim. Eram imagens de mulheres -talvez exemplos de deusas da fertilidade- e de animais. Segundo Jean Clottes, as primeiras explicações sobre as imagens na pedra começaram a surgir depois de 1902, quando foi reconhecido que esses desenhos e pinturas eram muito antigos. Em primeiro lugar, falou-se de arte pela arte. Os homens teriam sido levados a pintar por um "sentimento inato do belo", diz Clottes. A hipótese foi rapidamente abandonada."Depois, o abade Breuil sugeriu que os homens dessas cavernas tinham práticas mágicas: os desenhos serviriam para assegurar o sucesso da caça, a fecundidade, a destruição do inimigo. Essa explicação durou quase meio século. Mas ela levantava problemas: por que certos animais não eram desenhados flechados? Por que havia animais fantásticos?" Enfim, com a voga das explicações estruturalistas, nos anos 60, os pesquisadores tentaram enxergar quais eram as relações subjacentes à prática de ornar as as cavernas. Foi sugerido um sistema dualista, no qual os animais teriam valores simbólicos: o bisão estaria associado à representação do feminino, o cavalo ao masculino etc. "Estou convencido de que os desenhos das cavernas têm uma estrutura (como se fosse uma linguagem). Resta saber qual era o motivo e para que eles serviam", diz Clottes. Espíritos "Numerosos elementos desorganizados decoram as cavernas. Os homens pré-históricos os desenhavam para entrar em contato com os espíritos. É possível que os ossos enfiados nas rachaduras da pedra servissem para estabelecer um contato com o outro mundo. O mesmo ocorria com as imagens de mãos (pinturas enchendo um contorno ou 'negativos', imagens feitas com pó soprado em torno da mão estendida sobre a rocha)." "Imagine um xamã soprando sua pintura sagrada sobre a mão colocada sobre a parede de pedra. Mão e rocha se tornam uma coisa só: a mão passou para o outro mundo. Em Gargas foram encontradas imagens de mãos de bebês, os quais deviam participar dessa busca de força na parede. Mas não acho que todas as pinturas de todas as cavernas se devam a pessoas que procuravam visões. Ainda resta muita coisa a explicar", afirma. Texto Anterior: Os estágios do transe Próximo Texto: A Bienal chega ao fim Índice |
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