São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Água pode estar sob 2 metros de solo lunar

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O anúncio na semana passada da descoberta de um depósito de gelo na cratera Aitken reacendeu o sonho do homem colonizar a Lua.
Esses primeiros indícios, coletados pela sonda Clementine, pode ser o primeiro passo para confirmar a hipótese de que existem lençóis subterrâneos de água no satélite da Terra -talvez a dois metros de profundidade, como sustenta o astrônomo James Arnold, da Universidade da Califórnia em San Diego (Estados Unidos).
Na cratera Aitken, situada do lado da Lua que jamais é visto da Terra, nas vizinhanças do pólo Sul, tem mais de 12 km de profundidade (numa comparação com um objeto inverso, um montanha, o monte Everest está a cerca de 8 km do nível do mar). A temperatura nesse grande buraco lunar varia entre 20°C e 230°C abaixo de zero.
Se existe gelo nessa cratera, ele também deve ser encontrado em outros pontos do pólo Sul da Lua, como aliás já suspeitavam vários pesquisadores, há alguns anos.
Missões Apolo
Até 1995 não existiam indícios diretos ou indiretos de depósitos de água em qualquer região da superfície lunar.
As missões Apolo (com as quais os norte-americanos orbitaram a Lua ou desceram nela entre 1968 e 1972) trouxeram amostras que estavam completamente secas, com exceção de algumas rochas, trazidas pela Apolo-16, que foram provavelmente contaminadas pela água da atmosfera terrestre.
Mas alguns astrônomos ainda acreditavam nas hipóteses, relativamente antigas, segundo as quais deveriam existir depósitos de gelo nas regiões próximas às calotas polares da Lua.
A maior parte do satélite recebe a luz solar durante 14,75 dias a cada ciclo de 29,5 dias (período no qual a Lua completa suas fases).
Mas, nas regiões polares, existem vales e fundos de crateras que jamais foram atingidos pelos raios solares. Nesses "vales de trevas eternas" devem reinar temperaturas extremamente baixas. Elas constituem armadilhas nas quais o frio polar pode capturar os vapores da água ou mesmo reter os gelos por milhões de anos.
Recentemente, em 1961, os astrônomos norte-americanos Kenneth Watson, Bruce Murray e Harrison Brown, todos do Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA), propuseram um mecanismo que mostra como essas armadilhas geladas, onde reinam temperaturas de 173°C abaixo de zero, podem reter água em estado de congelamento por toda a eternidade.
Água de cometas
Nos anos 90, depois de cerca de duas décadas das últimas alunissagens, o astrônomo americano James Arnold resolveu retomar os estudos dos seus três colegas sobre a origem provável de água na Lua.
Para Arnold, a única fonte da água na Lua não estaria em seu interior. Ela poderia ter vindo com os meteoros ricos em água assim como no gelo dos cometas.
Se por um lado Arnold defende essas duas novas origens para a água, por outro lado ele explica que a Lua poderia tê-la perdido em consequência da radiação ultravioleta e do impacto das partículas atômicas do vento solar.
Essa radiação (a luz também é um tipo de radiação) poderia destruir as moléculas de água ao desintegrá-las em átomos de hidrogênio e oxigênio, que escapariam da Lua em razão da fraca atração gravitacional do satélite.
Apesar dessas dúvidas sobre as reais origens e mecanismos de destruição da água lunar, Arnold esteve sempre convencido de que os depósitos de gelo polar provavelmente existem. Ainda muito mais otimista, Arnold sugeriu a existência de água a uma profundidade de dois metros.
Crateras secas
Para o astrônomo Richard Hodger Junior, da Universidade do Texas em Dallas (EUA), as crateras em forma de bacia com diâmetros inferiores a 20 km devem produzir regiões de sombra permanente, em lugares próximos aos pólos.
Parece que tais crateras não permitiram um acúmulo significativo de água nos pólos, em virtude de seu fundo estar permanentemente aquecido pela radiação infravermelha que envolve suas paredes.
O contrário deverá ocorrer com as crateras com fundo plano. Segundo Hodges, para esse último tipo de crateras, situadas em latitudes superiores a 80 graus, devem existir superfícies nas quais a armadilha do frio deve agir de modo a conservar uma grande quantidade da água.
Assim, tanto para Hodges como para Arnold, um reservatório considerável de água deve estar ainda acumulado próximo aos pólos lunares. O grande problema é saber como detectar a existência real desses "lagos", muito difíceis de serem observados pelas sondas até hoje lançadas ao redor da Lua.
Em 1967, os pólos Norte e Sul foram fotografados pela sonda Lunar Orbiter 4 e 5. No entanto, pouco se pôde observar em virtude da iluminação muito limitada dessas regiões.
Em 9 de dezembro de 1992, a sonda Galileu fotografou a região polar norte da Lua. Mas, assim como os orbitadores lunares, a Galileu não possuía sensores capazes de detectar a existência de lagos congelados nos pólos lunares.

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