São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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Políticos ainda controlam TVs na Rússia

PILAR BONET
DO "EL PAÍS", EM MOSCOU

Cinco meses após o fim da campanha eleitoral de Boris Ieltsin, os dirigentes russos, que, durante a campanha, adquiriram hábitos de controle e censura política dos meios de comunicação, encontram dificuldade em renunciar a esses hábitos e continuam utilizando redes de TV e a agência oficial de notícias, "Itar-Tass", segundo seus interesses.
Para a classe política e financeira que se move em torno de Anatoli Tchubais, o chefe do gabinete do presidente russo, há dois personagens malditos: os generais Alexandre Lebed, ex-secretário do Conselho de Segurança, e Alexandre Korjakov, ex-chefe do Serviço de Segurança de Ieltsin.
"Análise política"
Tanto as principais redes de televisão quanto a rede privada NTV, cujo canal foi concedido por Ieltsin, preferem não mencionar os nomes dos dois generais.
Só o fazem quando é inevitável ou quando querem criticá-los. Neste último caso, eles costumam ser mencionados nos programas analíticos.
Esses programas, antes prestigiosos, hoje estão reduzidos a autênticos panfletos ideológicos.
Controle informal
A visita de Lebed aos EUA, por exemplo, não foi noticiada pela "Itar-Tass", mesmo frente às "muitas e detalhadas" informações enviadas por seus correspondentes, revelaram fontes ligadas à agência noticiosa.
"O mecanismo de controle da época soviética ainda é usado", observaram as mesmas fontes.
Mesma sorte teve o general Korjakov. Uma entrevista feita com ele no programa "O Escândalo da Semana", da TV-6, o primeiro canal de TV privado da Rússia, não foi ao ar.
O realizador do programa, Serguei Sokolov, atribuiu a censura a Boris Berezovski, empresário e vice-secretário do Conselho de Segurança, que é, ao mesmo tempo, acionista da TV-6.
A TV-6, disse ele, sofreu pressões políticas depois de transmitir o interrogatório dos dois funcionários da equipe de Ieltsin que saíram da sede do governo com uma caixa com meio milhão de dólares, em pleno processo eleitoral.
Por outro lado, o atual fortalecimento da liberdade de expressão impede o controle total dos meios de informação.
Simultaneamente, a existência de vários lobbies diferentes, assegura a difusão de materiais vindos de tendências opostas.
Assim, a censura à entrevista de Korjakov, ao programa "O Escândalo da Semana", foi divulgada, antes que se efetivasse, por outro canal de televisão.
Economia de mercado
Os meios de comunicação russos estão enfrentando as dificuldades próprias à subsistência numa economia de mercado.
"Não existe um único órgão de comunicação no país que não dependa de ajuda financeira. Por essa razão todos, de uma maneira ou outra, correm o risco de dobrar-se diante das pressões", afirma Iegor Iakovlev, diretor do "Obshchaia Gazeta" (Diário Geral), um dos veteranos da época do governo de Mikhail Gorbatchov.
Numa reunião recente entre os diretores dos meios de comunicação de Moscou (Rússia) e o chefe do gabinete presidencial, Anatoli Tchubais, o diretor do jornal "Komsomolskaia Pravda", Valeri Simonov, acusou Tchubais de usar Rem Viajerev, presidente da estatal Gazprom (que detém 30% das ações da rede NTV), para exercer pressão sobre seu jornal.
Segundo um dos presentes à reunião, Tchubais respondeu que o direito de propriedade é sagrado e que o proprietário pode exercer pressões quando achar necessário.

Tradução Clara Allain

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