São Paulo, domingo, 8 de dezembro de 1996
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COMPRAR, VENDER E BRIGAR

Da Antiguidade à Internet, passando pelas mais profundas trevas medievais ou pelas rotas orientais mais distantes, o mundo nunca parou completamente de comerciar. Revoluções políticas e avanços tecnológicos ocorreram, os caminhos do progresso material serpentearam pelo globo, mas o comércio foi desde tempos imemoriais uma necessidade e uma compulsão do ser humano.
Hoje a dimensão do comércio é ainda maior e mais multiforme, o que não significa que os surrados atos de comprar e vender estejam isentos de angústias, incertezas e conflitos. A cúpula de Cingapura que acontece esta semana é provavelmente a maior reunião para discutir comércio já realizada em toda a história da humanidade. A sua realização é em si mesma um fato notável.
Mas há países cruciais para o comércio mundial, como a China, que ainda não foram admitidos na Organização Mundial do Comércio. Assim como há quem já esteja na OMC e ao mesmo tempo adote políticas comerciais unilaterais e protecionismos variados, como os Estados Unidos e a União Européia, sobretudo no setor agrícola.
Há quem espere da OMC novo impulso de liberalização comercial, enquanto outros acreditam na sua importância como foro para consolidar princípios consagrados em negociações anteriores, mas ainda violados.
Ao longo da história recente, ou seja, desde o ciclo das navegações coloniais, amadureceu um ideal de desenvolvimento econômico amparado na progressiva liberalização dos mercados. O comércio, rompendo as amarras do passado, seria ao mesmo tempo um solvente e um combustível. Dissolvendo as barreiras entre regiões, classes e culturas, o comércio impulsionou o crescimento e alimentou ideais de paz universal.
A paz geral e irrestrita, como se sabe, nunca chegou. E, se ocorreram incontáveis avanços, a própria agenda da Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, em Cingapura, mostra que ainda há muito pelo que brigar. Mas, por enquanto, o mérito maior da OMC é justamente o de garantir que essas "brigas" obedeçam a certas regras, colocando a ampliação do comércio mundial em primeiro lugar.

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