São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996 |
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Dez grupos têm interesse
DO CONSELHO EDITORIAL O fato de já existirem dez grandes grupos nacionais e estrangeiros dispostos a pagar US$ 150 mil cada um para examinar os números da Vale, e com pelo menos US$ 500 milhões comprovados em ativos líquidos, é boa indicação do interesse pela sua privatização.Os grupos são: Votorantim, CSN, Anglo, Gencor, Noranda, Mitsubishi, Mitsui, Hyundai, Aracruz e um consórcio que reúne 12 empresas japonesas. A questão, do ponto de vista do governo, é saber como transformar esse interesse em um preço mais alto pela empresa. Olhando a privatização da Vale por esse ângulo, o modelo de venda idealizado parece fazer sentido. Os dez grupos, ou quantos mais vierem, vão disputar o controle de uma nova empresa que terá 40% a 45% do capital votante da Vale. Ninguém poderá ter mais de 45% do controle dessa empresa, o que obriga os interessados a fazerem composições entre si, envolvendo no mínimo três grupos. Grandes compradores ou vendedores de minério só poderão comprar até 10% do capital dessa empresa, para evitar que possam controlar a Vale e usá-la de forma menos interessante para o país. Conforme a composição a ser feita, a empresa poderá ficar com 40% ou 45% do capital votante. Fundos Os fundos de pensão já têm cerca de 19% do capital votante da Vale, e os funcionários, pela regra da privatização, poderão ter até 4,45% das ações votantes com a privatização (e 6,3% das não-votantes). Juntos, eles têm um poder de fogo enorme, e o modelo da privatização queria evitar que eles assumissem o controle da Vale privada. O que existe é um acordo informal com os fundos de que eles não venderão suas ações na privatização, como poderiam na condição de minoritários, o que poderia desvalorizar o preço de venda. Além disso, eles só entrariam na composição do capital da empresa que controlaria a Vale se necessário, com pequena participação. É provável que o grupo acabe fazendo um acordo com os fundos, dado seu peso, mas eles não teriam o controle da empresa. O Estado se garantiu com uma "golden share" que lhe assegura vários direitos estratégicos e com dois tipos de participação futura sobre as minas. No caso das minas já existentes e de longa duração (como Carajás), haveria um "royalty" de 1% da receita bruta depois de 30 anos. No caso das novas minas, o Estado teria direito a debêntures remuneradas a 2% da receita bruta. Todos esses direitos e a "golden share" levarão a um certo desconto no preço de venda da empresa, mas resguardarão alguns direitos politicamente sensíveis. O modelo de venda, é verdade, reduz bastante o valor necessário para se ter o controle da Vale. Se a empresa que terá até 45% do controle votante custar pouco mais de R$ 2 bilhões, como se calcula, 51% dela significará pouco mais de US$ 1 bilhão, o que soa pouco para controlar a Vale, que tem um patrimônio líquido estimado em R$ 11,2 bilhões este ano. Valorização Também significa, contudo, que os dez grupos interessados deverão disputar duramente o controle, o que significa potencial de valorização do preço. Definido o novo grupo de controle, há um outro potencial de valorização das ações, se ele for percebido como sendo capaz de revolucionar a administração. Como o governo terá ainda 31% do capital da Vale para vender mais tarde, poderá se beneficiar. A pulverização das ações entre milhares de acionistas não teria o mesmo efeito, até porque os fundos, unidos aos funcionários, tenderiam a ser os controladores, mantendo a administração. A venda das ações com direito a voto, nesse caso, equivaleria a ações sem direito a voto e isso se refletiria nos preços. Exceto talvez numa hipótese, feita por um banco de investimentos e que chegou a ser examinada pelo BNDES. Se antes de pulverizar o governo transformasse todas as ações em ordinárias com direito a voto, diluiria o peso dos fundos (a divisão hoje é 64% ordinárias e 36% preferenciais). Nesse caso, ao pulverizar o governo estaria abrindo uma briga real pelo controle da Vale, o que poderia valorizar as ações. O governo diluiria sua participação (de 76% das ordinárias e 6% das preferenciais), sem grande perdas. O problema é que, ao transformar todas as ações em ordinárias, pela lei atual, teria que ser dado direito de recesso aos acionistas, e isso seria caro. Um projeto de lei do ministro do Planejamento, Antonio Kandir, elimina esse direito, mas ainda não foi votado. Vincular a venda da Vale à votação de mais esse projeto seria tornar sua privatização ainda mais vulnerável às pressões do Congresso. Texto Anterior: Comparativo de rentabilidade Próximo Texto: Governos prometem combate à pobreza em todo o hemisfério Índice |
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