São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996 |
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Série começa com dupla do barulho
INÁCIO ARAUJO
Carlos Manga selecionou ali alguns dos melhores momentos do gênero. A idéia é chupada direto de "Isto É Hollywood", coletânea que, pouco tempo antes, ressuscitara o interesse pelos musicais da Metro. Ou seja, "Assim Era a Atlântida" retoma uma rota frequente na chanchada: partir do sucesso americano e replicar à brasileira. É em parte o caso de "A Dupla do Barulho", de 1953, que inaugura a coleção contando, em linhas gerais, a história da dupla Oscarito/Grande Otelo, que, juntos, fizeram uma dezena de filmes. Seu eixo é o racismo. Otelo é Tião, o subalterno que o acaso eleva à condição de parceiro de Tonico (Oscarito). A dupla faz enorme sucesso. Até aí, estamos na seara típica do musical hollywoodiano pré-Arthur Freed (o grande produtor da Metro): uma comédia em torno do próprio meio do "show business". Tião, no entanto, sente-se desconfortável na condição de número dois da dupla. É o início de um descaminho com lances frequentemente melodramáticos. O filme foi a primeira direção de Manga, e em vários momentos percebe-se o talento e o "savoir faire" que se mostrariam mais plenamente em "O Homem do Sputinik" e no notável "De Vento em Popa" (ambos na coleção). O talento da dupla também está lá, ainda que, do ponto de vista cômico, Grande Otelo continuasse subutilizado (aliás, o "plot" gira em torno da incapacidade de dar vazão plena a seu humor). O ponto fraco dessa chanchada não carnavalesca é o roteiro, apressado, banal e precariamente estruturado, como quase sempre nas chanchadas. Por isso, ou apesar disso, "A Dupla do Barulho" ilustra bem a idéia de Paulo Emilio sobre a incapacidade nacional para a imitação. Por mais que se quisesse copiar Hollywood, o resultado é, para o bem e para o mal, um precioso mergulho no Brasil, no humor carioca e, no caso, no nosso entranhado racismo. (IA) Texto Anterior: Gênio da chanchada retorna em 15 fitas Próximo Texto: Os mais retirados da semana Índice |
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