São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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"Blendeds" são globalização do uísque

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL AO REINO UNIDO

Todo uísque é um uísque. Para um bebedor eventual típico de um dos vários "blendeds" à disposição no mercado, a frase pode se aplicar. Para um escocês, jamais.
Para início de conversa, o que os outros bebem como uísque é, via de regra, uma variação tardia do produto original. Sendo o original o malte e a variação o "blended".
O malte, que nasceu há 600 anos e é cultivado pelos "experts", é resultado do processo de fermentação e destilação de um único tipo de cereal, a cevada maltada.
Seu sabor pode variar principalmente em função de três fatores: o uso maior ou menor da turfa na secagem da cevada, o tamanho e formato dos alambiques de cobre usados na destilação e o tipo de barril usado no envelhecimento.
Tudo isso confinado a uma destilaria e a sua arte.
É uma receita desenvolvida às vezes durante séculos e transformada numa marca de puro malte cujo sabor varia muito pouco.
Já um "blended" é a soma de muitas contribuições. Para começar, uma parte substancial do uísque usado como base é o de grãos, na verdade, destilado principalmente de trigo ou, menos comumente, de milho.
O uísque de grão é, ou foi, objeto de controvérsias entre os escoceses. Seu processo de destilação não tem nem a nobreza nem o charme envolvidos na destilação dos maltes. Seu gosto pode ser agradável, mas é de um ramo da família visto com menos respeito.
Além do uísque de grãos, o "blended" nasce da mistura de inúmeros maltes.
Não que falte arte aos "blendeds". O mestre-misturador é um profissional muito respeitado no setor, responsável por controlar o gosto de dezenas de maltes usados na composição de um "blended" e o resultado final.
Algumas receitas são seculares, e há uma tradição, algo perigosa, de transmissão oral dos segredos e proporções das misturas.
Grandes produtores de "blendeds" vendidos em todo o mundo costumam comprar as destilarias que produzem os principais maltes usados na mistura, tanto para controlar a qualidade quanto para garantir a oferta.
Pode ser que um bebedor descuidado peça apenas um "scotch", sem olhar a marca, mas é vital para as destilarias que o consumidor não identifique mudanças no gosto de seu uísque predileto.
Ainda que, como observam alguns "experts", a globalização do "blended" tenha levado a uma progressiva aproximação de sabores -outra razão para valorizar os puro maltes.

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