São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ano 2000: que sindicato queremos

LUIZ MARINHO

O movimento grevista iniciado pelos metalúrgicos do ABC, em 1978, contribuiu para que os trabalhadores de todo o país despertassem para a ação sindical e política.
As lutas por melhores salários e condições de vida, no final dos anos 70, colocaram a classe trabalhadora na frente da resistência à ditadura militar.
A forte posição contestadora, combativa e radicalmente oposicionista foi a marca dos metalúrgicos do ABC. Suas lutas por liberdade e democracia ganharam as ruas, as praças e os corações de milhões de brasileiros.
Apesar do nível de organização alcançado pelos trabalhadores nestes últimos 18 anos, as lutas de resistência continuam sendo o centro das ações dos sindicatos.
O avanço democrático obtido pelo processo histórico que se seguiu ao fim do regime autoritário não foi suficiente para se traduzir em melhoria significativa da qualidade de vida da população.
Hoje, novos desafios estrangulam o movimento sindical. O processo de globalização da produção, os avanços tecnológicos e a política neoliberal aplicada pelos últimos governos têm colocado os trabalhadores na defensiva.
Nesse contexto, os metalúrgicos do ABC vão realizar o seu segundo congresso, entre dezembro de 1996 e maio de 1997. É tempo suficiente para que, com maior fôlego, as discussões possam se desenvolver no chão da fábrica e com o maior número de trabalhadores.
Essa novidade na metodologia possibilitará que os desafios atuais sejam debatidos à luz da realidade vivida nos locais de trabalho.
O tema principal em discussão será o sindicato que queremos para o ano 2000, com a difícil missão de repensar um modelo organizativo, construir novas táticas de luta e ousar saber se a greve deve ou não ser instrumento prioritário de luta. Também estarão em discussão formas alternativas de sustentação financeira e novos modelos de gerenciamento administrativo.
A exemplo do congresso de outubro de 1978, considerado até agora o mais arrojado (nele, aprovaram-se a luta por uma central sindical, comissões de fábrica etc.), esse novo encontro também primará pela ousadia. Tudo estará em discussão: o papel, a cara e o modo de agir do sindicato.
O sindicato do ano 2000 se consolidará como parte de uma coletividade mais ampla na sociedade e exercerá um poder maior de intervenção na realidade enquanto representante de cidadãos, contribuintes e consumidores.
O sindicato do ano 2000 vai jogar na lata do lixo da história o corporativismo, os vícios políticos e a getulista máquina burocrático-administrativa.
O congresso vai esboçar o novo modo sindical, que contemplará o chão da fábrica e, ao mesmo tempo, verá o trabalhador como morador de uma cidade.
A mudança começa em nossas cabeças. Não haverá apenas o operário de macacão, apêndice da máquina/robô. Haverá o cidadão por inteiro, que tem toda uma vida além dos muros da fábrica em que trabalha. Que precisa, além de comida, de diversão, cultura e arte.

Texto Anterior: Basta de jeitinhos
Próximo Texto: Volkswagen pode pedir perdão à GM
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.