São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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Americanos trazem nova abstração

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os artistas plásticos Charles Spurrier, Fred Tomaselli, Lewis DeSoto, Sharon Ellis e Nayland Blake têm três coisas em comum.
Os cinco são norte-americanos; têm como representante a galeria Christopher Grimes, em Santa Monica (Califórnia) e expõem a partir de hoje na Camargo Vilaça.
Charles Spurrier trabalha com materiais como fita adesiva, cinza de cigarro, resina colorida e papel contact para construir suas obras sobre vidro e madeira.
A cinza de cigarro serve para formar o pigmento que Spurrier vai usar como tinta para as impressões digitais que impregnará no trabalho. A resina será mastigada e aplicada no vidro, com as marcas dos dentes.
O artista nega que digital e arcada dentária sejam unicamente remissões à sua identidade. "É pessoal no momento em que são minhas, mas também é genérico, já que todos possuem esses sinais de identidade", disse recentemente à Folha em seu ateliê no Brooklim, em Nova York.
"Quando uso os dentes penso ainda no sorriso, na comida, em tudo o que se entra e sai da boca. As digitais também se referem ao relacionamento por meio do toque -um aperto de mão, um carinho, uma agressão- e com o trabalho que é feito com as mãos", disse.
Os trabalhos de Spurrier fazem remissão aos "objets trouvées" de Marcel Duchamp e aos conceitos da arte pop de Andy Warhol ao utilizar materiais industrializados com a mesma função que têm no dia-a-dia, como a fita adesiva, que cola, e o papel contact, que simula o efeito decorativo da textura da madeira.
Spurrier trabalha ainda em contraposição à pureza da idéia na arte conceitual. "Não quero trabalhar com a idéia de ter minhas mãos limpas. Quero levar a idéia da contaminação", disse.
Fred Tomaselli também trabalha com a idéia da contaminação. Cria em seus trabalhos uma nova abstração, com drogas (maconha, cocaína, LSD e outras) e medicamentos (aspirina, anfetamina, efedrina e outros). Seu interesse maior é o mito da pintura como uma janela para outra realidade. Arte e drogas como alteradores da percepção da realidade, como portadores de beleza e dano.
"Acho que a experiência da pintura se assemelha à das drogas psicodélicas. Arte e drogas fazem você entrar em um espaço transcendente, mover-se no sublime, trazem consigo a idéia do prazer e do desejo", disse. "A arte é um meio de se auto-intoxicar", disse Marcel Duchamp.
Os trabalhos de Tomaselli recorrem à optical art (obras que trabalham a inter-relação do espectador com a obra a partir de percepções óticas e psicológicas criadas a partir de um ilusório jogo cromático) e à "pattern painting" (discussão da questão decorativa da arte desenvolvida na década de 80).
A "pattern" tem sua grande representante na mostra nos multicoloridos trabalhos de Sharon Ellis. Com um rigor técnico indescritível, suas abstrações caleidoscópicas lembram alucinações psicodélicas e paisagens de ficção científica.
Nayland Blake trabalha as obsessões sexuais humanas por meio de bonecos inertes. São sádicas imagens da natureza (coelhos) presas à impossibilidade do desejo.
Lewis DeSoto, que comparece com uma instalação, se dá melhor em trabalhos em que cria ambientes e utiliza sua primeira ocupação: a fotografia.

Mostra: coletiva dos artistas norte-americanos Fred Tomaselli, Charles Spurrier, Lewis DeSoto, Nayland Blake e Sharon Ellis
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Vila Madalena, tel. 011/210-7390)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de hoje a 21 de dezembro e de 2 a 31 de janeiro

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