São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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PATINHO FEIO

As informações sobre o Brasil que chegam da Cúpula Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio) são desanimadoras. Mas não se trata das posições da diplomacia nem de pressões contra eventuais inclinações protecionistas. Trata-se, pura e simplesmente, de números.
Entre os 50 principais países comerciantes do mundo, o Brasil foi o que menos aumentou suas exportações. E ficou em segundo lugar em termos de crescimento de importações. Os dados referem-se a 1995.
São tendências já conhecidas e, em parte, atenuadas à custa da elevação de tarifas de importação, sobretudo sobre carros. O esforço para melhorar a balança comercial exigiu ainda, além do recuo na abertura comercial, que aliás é alvo de ações na própria OMC, um traumático desaquecimento da atividade econômica.
Os dados comparativos coligidos pela entidade, entretanto, dão uma dimensão mais grave à situação brasileira e sugerem que o esforço realizado até agora para reduzir o déficit comercial foi apenas um começo, talvez insuficiente.
Crescendo só 7% em 95, as exportações brasileiras garantiram ao país a condição de ser o único entre os 50 com crescimento inferior a 10%. Quanto às importações, cuja alta no ano passado foi de 49%, o Brasil perdeu apenas para a Turquia. Ainda assim, o Brasil continua com modestos 0,9% das exportações e 1% das importações mundiais.
Entre os muitos argumentos desse debate crucial para o futuro da economia brasileira, destaca-se a tese de que o desequilíbrio comercial é passageiro e que, no futuro, as importações vão gerar mais exportações, já que a modernização das empresas aumentaria sua competitividade.
É uma visão otimista que vê o patinho feio do déficit comercial transformar-se em breve num belo cisne. Os dados da OMC sugerem que a metamorfose deverá ser mesmo dramática, sob pena de o país tornar-se motivo de apreensões mais graves entre a comunidade das nações.

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