São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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EXUBERÂNCIA IRRACIONAL

Teriam os mercados acionários do mundo todo passado nos últimos dias por uma espetacular oscilação totalmente explicada por reações emocionais? Essa é a pergunta que ainda não pode ser respondida, mas que continuará incomodando o íntimo de cada operador financeiro nas próximas semanas.
O presidente do Fed (banco central norte-americano), Alan Greespan, declarou-se contra a "exuberância irracional" dos mercados e classificou a onda altista como "bolha especulativa". Ato contínuo, os operadores especularam com uma possível atuação do banco central, elevando as taxas de juros para jogar água fria na euforia sem fundamentos.
Ao longo da última sexta-feira a calma aos poucos voltou e ontem o episódio já estava digerido. Mas uma análise dos fundamentos da economia norte-americana dão razão ao presidente do banco central.
O risco, entretanto, não é de elevação dos juros. O consumidor dos EUA encontra-se endividado em nível recorde. Muitas empresas encontram dificuldades para crescer. O dólar tem sofrido uma insistente valorização nos mercados internacionais, o que torna mais árduo o esforço das empresas exportadoras.
Em resumo, o problema da economia norte-americana hoje é tipicamente o de exaustão de um longo ciclo de crescimento, em que aparentemente o mais razoável seria o banco central reduzir os juros em vez de aumentá-los, já que não há riscos de pressão inflacionária no horizonte.
Assim, a "exuberância irracional" decorre de um mercado que aposta na alta contínua de ações de empresas cuja performance no mundo real dificilmente poderia corresponder a tais expectativas. Os especuladores deveriam perceber que o risco não está numa eventual elevação dos juros, mas no descompasso entre expectativas pouco racionais e o ciclo da economia produtiva.
Mas a exuberância dos ganhos turva a visão. Como diz o ditado, quanto maior a altura, maior o tombo.

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