São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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A "highway" e a vicinal

CLÓVIS ROSSI

Cingapura - O presidente da República pode até me chamar de "fracassomaníaco", mas a verdade, vista aqui da Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), é uma só: enquanto o mundo desenvolvido está na "highway" da informação, o Brasil agarra-se à vicinal da agricultura.
Calma, presidente, não é culpa sua. São os chamados fatos da vida. Por mais que os brasileiros corram atrás do Primeiro Mundo, a velocidade com que este avança é tão maior que cria-se esse chocante contraste.
A agenda do Brasil e dos países desenvolvidos é radicalmente diferente. Eles querem abrir os mercados do presente e do futuro: informática e telecomunicações, por exemplo.
O Brasil quer abrir mercados que, embora ainda sejam do presente, começam a pertencer ao passado, como a agricultura.
Foi isso que se viu ontem, ao se inaugurar a reunião de Cingapura, destinada a fixar a agenda do comércio mundial para os próximos anos.
Na ponta da informática, o Brasil é uma não-entidade. Ainda que todos os países do mundo abrissem seus mercados, o que poderia exportar nessa área? Nada.
Na área de telecomunicações, também. Mesmo que todos os países eliminassem seus monopólios, o Brasil "não teria acesso a nenhum mercado do mundo", admite o ministro Francisco Dornelles (Indústria e Comércio). Porque não é produtor nesse setor.
Apesar de progressos visíveis em algumas áreas industriais, o que o Brasil pode pedir em troca de aberturas em informática e telecomunicações é pouco mais do que maior liberalização agrícola.
Dornelles calcula em US$ 2 bilhões ao ano o que o Brasil perde em exportações devido ao protecionismo em especial da União Européia e dos EUA. Basicamente, em produtos agrícolas e agroindustriais.
A mais antiga atividade do ser humano.

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