São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
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Do fundo do quintal

VALDO CRUZ

Brasília - Porto Alegre vive uma situação inusitada. A prefeitura petista, o governo estadual peemedebista, empresários e entidades internacionais se uniram para combater o desemprego.
A união de interesses tão díspares deu origem à Portosol (Porto Alegre Solidariedade), uma entidade sem fins lucrativos de crédito popular.
O alvo da Portosol são os empresários de "fundo de quintal", aqueles que não têm acesso aos financiamentos dos grandes bancos.
Fundada em janeiro deste ano, a entidade já emprestou R$ 2,2 milhões a costureiras, mecânicos, marceneiros, cabeleireiros e doceiras. Foram 1.542 operações -um valor médio por empréstimo de R$ 1.426.
A Portosol não funciona apenas como uma fonte alternativa de financiamento. Ensina seus clientes -a maior parte mulheres- a gerenciar os recursos do empréstimo.
Seu agente visita o pequeno negócio. Faz as contas das despesas do empreendimento e da família para checar sua capacidade de pagamento. Resultado: a inadimplência é baixíssima. Menos de 2,7%.
O governo federal descobriu a entidade e resolveu ajudá-la com um financiamento de R$ 1,8 milhão dentro do projeto BNDES Solidário.
O ministro Antonio Kandir (Planejamento) é um dos entusiastas do negócio, chamado no Programa Comunidade Solidária de "banco do povo".
"Temos mais R$ 16 milhões para emprestar. Essa é uma alternativa para gerar renda para quem ficou desempregado", diz Kandir.
O entusiasmo do ministro vem da experiência que viveu dentro de casa. Seu pai, de origem armênia, não conseguia empréstimo para tocar seu pequeno negócio (venda de canetas).
Iniciativas como essa começam a aparecer pelo país. Pena que elas ainda não sejam bem assimiladas por uma parcela dos políticos brasileiros.
Aqueles que não gostam de abrir mão de interesses pessoais e partidários em nome de um objetivo comum.

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