São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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"Free jazz" à brasileira de Ivo Perelman sai em quatro CDs

Saxofonista radicado nos EUA lança trabalhos independentes

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Radicado desde 1981 nos EUA, onde é considerado um dos mais originais jazzistas revelados na última década, o saxofonista paulistano Ivo Perelman, 35, acaba de lançar quatro novos discos.
"Imponente", "inovador", "provocativo". Esses são alguns dos adjetivos eufóricos que o trabalho do saxofonista vem recebendo de revistas especializadas, como a "Down Beat", a "CD Review" ou a "Cadence".
Diferentemente de outros músicos brasileiros que atuam nos EUA, Perelman não toca samba, bossa nova ou "fusion". Sua fórmula original consiste em aplicar a estética atonal e arrítmica do "free jazz" a canções folclóricas e ritmos regionais do Brasil.
Nessa linha, o novo CD "Tapeba Songs" (que já está disponível em algumas lojas importadoras) pode ser considerado como última parte de uma trilogia.
A estréia fonográfica do brasileiro se deu com "Ivo" (1989), uma coleção de cantigas de roda infantis furiosamente improvisadas. A sequência veio em "Children of Ibeji" (1992), baseado em cantos de candomblé, também tratados como "free jazz".
No novo "Tapeba Songs" (selo Ibeji), o foco de Perelman se volta para canções indígenas. Durante uma viagem a Fortaleza (Ceará), no início do ano passado, o saxofonista entrou em contato com crianças da tribo dos Tapebas.
A voz de uma delas -Luciana, na época com 12 anos- foi até incluída no disco, como introdução da faixa "Água de Manin".
As gravações do álbum aconteceram em São Paulo, em março de 95. Acompanhando Perelman, aparecem os irmãos José Eduardo (percussão) e Lelo Nazário (teclados), Paulo Bellinati (violão) e Rodolfo Stroeter (baixo).
Entre os melhores momentos está a faixa "Viola". Criada no estúdio, por Perelman e Bellinati, traz uma combinação sonora inusitada: sax tenor e viola caipira.
Mais recentes, os outros três discos lançados pelo jazzista foram gravados por diferentes selos alternativos norte-americanos.
O CD "Blue Monk Variations" (Cadence) nasceu por acaso. Num estúdio, enquanto aguardava um parceiro atrasado para uma gravação, Perelman acabou registrando seis versões diferentes (sem acompanhamento) do tema "Blue Monk" (de Thelonious Monk).
Em "Sad Life" (selo Leo), ele improvisa outra série de composições próprias, além de adaptar três canções folclóricas. O destaque é a presença de Rashid Ali, explosivo baterista que acompanhava o sax de John Coltrane (1926-1967), em sua fase mais "free".
Já no CD "Cama de Terra", Perelman preferiu improvisar sem bateria. Está acompanhado apenas pelo baixo de William Parker, que também toca no disco anterior, mais o piano de Matthew Shipp.
Segundo o saxofonista, os números de sua prolífica produção devem se repetir no próximo anos. Já nos primeiros meses de 97, outros quatro CDs de Perelman vão chegar às lojas.

Disco: Tapeba Songs
Artista: Ivo Perelman
Lançamento: Ibeji (importado)

Disco: Cama de Terra
Lançamento: Homestead (importado)

Disco: Sad Life
Lançamento: Leo (importado)

Disco: Blue Monk Variations
Lançamento: Cadence (importado)
Quanto: R$ 22, em média, cada um

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