São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 1996
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A prepotência do império

CLÓVIS ROSSI

Cingapura - Os Estados Unidos raramente perdem ocasião para explicitar os direitos de que se sentem investidos, como a única superpotência remanescente neste final de século.
E o fazem com uma prepotência assustadora. Veja-se o depoimento que Charlene Barshefsky, a xerife do comércio norte-americano, prestou ao Senado a propósito da conferência da OMC (Organização Mundial do Comércio), que se está realizando em Cingapura.
Um trecho para amostra: "Nós mantemos o direito de usar nossas leis comerciais. Os acordos da OMC contêm regras mais rígidas para acertar disputas, que já estão servindo aos interesses norte-americanos, mas elas não são o único instrumento para abrir mercados externos. Nós temos usado -e continuaremos a fazê-lo- todas as nossas leis comerciais para preservar os interesses dos trabalhadores e firmas norte-americanas".
Traduzindo: as leis que o mundo aceita, o império também aceita, desde que adequadas aos seus interesses. Quando não, o império usa as suas próprias regras, não importa o que pensem os demais membros da sociedade planetária.
Em relação aos BEMs (sigla em inglês de Grandes Mercados Emergentes, um grupo de 12 países que inclui o Brasil), Barshefsky exibe todo o viés colonialista:
"Uma das principais políticas comerciais (e econômicas) para nós é como os EUA podem melhor se colocar para ajudar a manter tais países na direção econômica correta, com mercados cada vez mais abertos para os EUA e para o comércio global".
Traduzindo: a bugrada pode se divertir à vontade com as miçangas, desde que não tente sair da "direção econômica correta".
O diabo é que a prepotência funciona, quando apoiada no poder econômico (e, incidentalmente, também militar).
Os EUA impuseram em Cingapura a sua agenda.

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