São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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O nome que diz tudo

JANIO DE FREITAS

A gafe percebida pelos parlamentares do PPB na listagem das suas dívidas, em relação a um dos citados, proporciona um fecho muito comprometedor na série de indícios que já sugeriam uma manobra indecente do governo em favor da reeleição.
A sequência dos fatos é bem lógica. O capítulo inicial foi do gabinete, no Palácio do Planalto, do ministro da Coordenação Política, com o pedido ao PPB dos nomes integrantes de sua Comissão Executiva. O PPB atendeu, nada havendo que sugerisse resposta em contrário. Na semana passada, parlamentares do PPB recebem cópia de uma relação de pepebistas com suas respectivas situações no Banco do Brasil. É logo notada a identidade entre os nomes mandados ao Planalto e a relação das situações bancárias.
Os pepebistas agem com a calma de quem está bem municiado e pode dar corda ao adversário, para afinal embaraçá-lo mais. Não foi por outro motivo que o senador Esperidião Amin fingiu ignorar a gafe, deixando as vozes da Presidência da República esbravejarem inocência, como é que pessoas tão puras pensariam em chantagem para obter, de parlamentares do partido de Paulo Maluf, seus apoios à reeleição?
Amin já pode, então, mostrar um pormenor perverso. Na lista mandada ao Planalto, um dos nomes está grafado como Francisco Silva, deputado pelo Estado do Rio. E assim figura na relação das situações de pepebistas no Banco do Brasil. Ou seja, a busca de débito foi feita pela mesma grafia disponível no Planalto. Mas o nome completo do deputado tem ainda um Oliveira e uma preposição, presentes na denominação de sua conta no BB.
Além de oferecer um acréscimo gravemente precioso à série de indícios que comprometem a Presidência da República com o levantamento de dívidas dos seus adversários, para usos fáceis de imaginar, a gafe das grafias tem outro efeito malvado. Ficou desmoralizado o principal elemento de defesa levantado pelo governo, posto mesmo em nota oficial do Banco do Brasil: se a relação de situações bancárias proviesse de pesquisa burocrática e rotineira do banco, o nome do deputado fluminense apareceria como está em sua conta. Paulo Cesar Ximenes, com sua mentira oficial, sujeitou-se a mais um artigo das leis penais.
Ao que tudo indica, Esperidião Amin soltou apenas a primeira das setas envenenadas de que o PPB dispõe. Sendo assim, é duvidosa a eficácia do esforço dos governistas, já encabeçado pelo executivo da reeleição e secundariamente presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, para impedir a instalação da aprovada CPI do Orçamento. Já existe algo tão complicador quanto ela.

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