São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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Moradores acusam policiais de tortura

DA REPORTAGEM LOCAL

Moradores de um mutirão no Itaim Paulista (zona leste) acusam policiais militares de torturar 11 pessoas para forçá-las a delatar traficantes de drogas do bairro.
A suposta agressão teria ocorrido na manhã de anteontem. Os policiais envolvidos na ação trabalham na 4ª Companhia do 2º Batalhão de Policiamento Metropolitano, no Itaim Paulista.
Segundo os denunciantes, que não tiveram seus nomes divulgados pela Polícia Civil, quatro policiais militares teriam invadido às 10h de quarta-feira a casa de Edvaldo Sérgio de Souza, 39.
Lá, teriam sido encontradas 15 pedras de crack e uma carabina.
Em seguida, os policiais teriam começado a agredir Souza para que ele entregasse quem teria fornecido a droga a ele.
Após o suposto espancamento, os policiais teriam invadido outras casas e passado a agredir outras pessoas com o mesmo objetivo.
A suposta violência teria sido presenciada pela equipe do programa "Na Rota do Crime", da TV Manchete, que acompanhava os PMs.
Algumas pessoas teriam sido espancadas no meio da rua. Um vendedor de frutas acusa a Polícia Militar de ter destruído completamente sua barraca.
Uma outra moradora afirma ter levado choques elétricos.
Por volta das 11h, a PM teria invadido a casa do suposto chefe do tráfico, Carlos Moreira Melo, 24.
Segundo o tenente Anderson Caldeira Lima, que comandou a operação policial, havia na casa 40 pedras de crack e R$ 87, que teriam sido ganhos com a venda da droga.
Os dois acusados foram levados ao 50º DP (Itaim Paulista). Mas, depois de ouvir as testemunhas que denunciaram tortura, o delegado José Zito de Assunção libertou os dois por falta de provas.
Assunção denunciou o caso para a Corregedoria da Polícia Militar investigar se houve abuso de autoridade por parte dos policiais.
As 11 pessoas que acusam a PM repetiram as mesmas acusações à corregedoria.
Represália
O tenente Lima nega as acusações de tortura. Para ele, as denúncias foram "armadas" pelo delegado Assunção, com quem Lima teria uma desavença.
"No dia 15 de setembro, minha equipe deteve o delegado por estelionato. Ele estava vendendo lotes inexistentes em São Miguel Paulista", denunciou. "Desde então, ele vem perseguindo minha equipe. Por isso, ele libertou os traficantes e jogou fora nosso trabalho."
Segundo Lima, a ação da polícia foi "normal". "Tanto que deixamos a TV filmar nossa ação."
O delegado confirma que foi detido pelo tenente em setembro. Mas nega que tenha soltado os acusados como represália.

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