São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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OMC elimina cláusula social de agenda

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

A cláusula social (vinculação entre acordos comerciais e respeito a padrões trabalhistas fundamentais) foi virtualmente eliminada da agenda da OMC (Organização Mundial do Comércio).
O texto da Declaração Ministerial, o documento final da primeira Conferência da OMC desde a sua criação há dois anos, diz:
"A OIT (Organização Internacional do Trabalho) é o organismo competente para tratar desses padrões".
Estados Unidos, França e Noruega, principalmente, fizeram forte pressão para que não apenas a OIT, mas também a OMC se envolvesse pelo menos no estudo do impacto do comércio sobre o mercado de trabalho.
A delegação norte-americana chegou a dizer que preferia que não houvesse documento final (o único do encontro) a emiti-lo sem uma menção ao estudo.
Por trás da pressão, existe o pressuposto de que países que desrespeitam as regras trabalhistas fundamentais produzem bens a preços mais reduzidos, com os quais invadem os mercados dos países desenvolvidos, nos quais é mais rígido o respeito às normas trabalhistas.
A mais poderosa organização sindical internacional, a CIOSL (Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres), também pressionou fortemente pela cláusula social.
Mas Paquistão e Egito, com discreto apoio do México, conseguiram bloquear até um texto já aguado que previa apenas o estudo sobre o impacto do comércio no emprego, assim mesmo a ser conduzido durante dois anos.
A cláusula social acabou sendo o item mais controvertido de toda a Conferência Ministerial de Cingapura, que tem seu encerramento previsto para hoje.
A formulação final do item a ela relativo começa com uma obviedade total: "Renovamos nosso compromisso com a observância de padrões trabalhistas fundamentais internacionalmente reconhecidos".
Mas o texto acrescenta que os países signatários rejeitam "o uso de padrões trabalhistas para propósitos protecionistas e concordam que a vantagem comparativa de países de baixos salários não pode, de modo algum, ser posta em questão".
O Brasil também se opunha à cláusula social, mas não com o radicalismo demonstrado por Paquistão, Egito e México.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, que chefia a delegação brasileira em Cingapura, comentou, após ser fechado o texto, que ele "é plenamente aceitável para nós, porque renova os compromissos com os direitos trabalhistas fundamentais, mas encerra a polêmica".
Já o ministro do Comércio do Paquistão, Mohammed Zubair Khan, proclamou o resultado como "uma grande vitória para os países em desenvolvimento e para aqueles que os apoiaram".
O contraponto vem da Oxfam, uma das mais ativas ONGs (Organizações Não-Governamentais) do mundo. "Ao deixar o tema para a OIT, que, apesar das melhores intenções, mostrou ser incapaz de proteger os direitos fundamentais, a OMC está, na prática, encorajando a manutenção de um status quo insatisfatório", diz a entidade.
Os direitos trabalhistas contidos na cláusula social são liberdade de associação, direito de negociar coletivamente, eliminação do trabalho escravo e da exploração do trabalho infantil e não-discriminação no emprego.

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