São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
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Betinho lança dia 19 livro com recordações de sua infância

Sociólogo abandona escritos políticos em 'A Lista de Ailce'

DA SUCURSAL DO RIO

Sempre que o político Zé Promessa visitava certa família em Minas, aquele menino, de uns seis anos, lhe pedia um potrinho. O visitante, claro, prometia o animal, mas nunca o trazia, explicando à criança: "Seu potro cresceu, tenho de arrumar outro". Assim o tempo passou -e Zé Promessa livrou-se da cobrança.
"Foi a primeira pessoa a me enganar na vida", diz, mais de meio século depois, o garoto enganado, o hoje sociólogo Herbert de Souza, 61. Zé Promessa era José Maria Alkmin, primo distante, personagem do folclore político mineiro e também de "A Lista de Ailce", livro a ser lançado dia 19, com lembranças da infância de Betinho em sua cidade natal, Bocaiúva (MG).
A "Lista" começou a nascer há dois meses, quando Betinho quis saber o que acontecera a quem conhecera no início da vida -os primeiros cinco anos, quando viveu em Bocaiúva, e nos seguintes, quando voltou para visitas.
Telefonou para sua prima Ailce pedindo-lhe uma lista com os nomes dos conhecidos daqueles anos que já tinham morrido.
A lista mandada pela prima Ailce foi enriquecida com outros nomes recordados pelo sociólogo, incluindo animais, mendigos e até o trem que passava pela cidade. Tudo temperado com um humor que, diz Betinho, é típico de lá.
Um dos personagens que Betinho recorda é do doutor Gil, médico que, certa ocasião, ao examinar o seleiro Eli diagnosticou febre. Errou: Eli morreu de apendicite. "No fundo, ele era um bom veterinário", diz Betinho, lembrando que o médico virara fazendeiro e errava muitos diagnósticos.
Betinho incluiu, na lista, seu pai, Henrique de Souza, e sua mãe, Maria, e fala até do primo distante, o ex-presidente João Figueiredo.
Mas recorda rapidamente os irmãos Henfil e Chico Mário -mortos em 1988, em consequência da Aids, que, hemofílicos como o sociólogo, contraíram em transfusões.
"Henfil não é de Bocaiúva, nasceu em Neves, e Chico Mário, em Belo Horizonte, e nenhum deles morreu em Bocaiúva", diz.
Outro motivo é sentimental: até hoje, diz, a recordação da morte dos irmãos ainda é "um peso".
Quem procurar uma autobiografia na "Lista", porém, não vai encontrá-la, segundo Betinho.
Para ele, o livro foi, à exceção das obras de literatura infantil que produziu, o primeiro que escreveu por prazer e não por militância.
Também não é possível, para ele, juntar a "Lista" com "Revoluções da Minha Geração", depoimento a François Bougon, lançado anteontem pela editora Polêmica. "Os dois livros não se juntam", afirma.
Para Betinho, escrever "A Lista de Ailce" foi uma forma de preencher um vazio que sentia, ao recordar a infância na cidade. "Às vezes, eu estava no Rio e pensava: 'Será que ainda existe Bocaiúva?'."
"Hoje, posso garantir: Bocaiúva existe", diz.

Livro: A Lista de Ailce
Autor: Herbert de Souza

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