São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indigestão

CLÓVIS ROSSI

Cingapura - Para o chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia, a Conferência Ministerial de Cingapura sobre comércio termina com uma lição clara: "Não estão dadas as condições para novas negociações e novos compromissos além dos adotados na Rodada Uruguai".
A Rodada Uruguai (86/93) representou a maior liberalização comercial jamais realizada.
Tanto que os primeiros cálculos indicavam que a renda mundial cresceria US$ 515 bilhões ao ano, uma vez completadas, em 2005, as reduções de barreiras ao comércio por ela previstas.
Na prática, não foi bem assim. Tanto que a própria OMC já reduziu para US$ 313 bilhões os ganhos para a renda mundial, em parte pelo atraso na implementação dos acordos.
Mas, de todo modo, foi um resultado extraordinário, ainda que o benefício maior fique com os países ricos, que são os grandes exportadores.
Por isso mesmo, foram eles os que mais insistiram em que, na Conferência de Cingapura, se avançasse na liberalização de novas áreas (informática, compras governamentais etc).
Só funcionou parcialmente. Houve acordo sobre informática, mas apenas entre os ricos (EUA, União Européia, Japão e Canadá).
Portanto, Lampreia parece ter certa razão. Mas o mais lógico é considerar que, na verdade, consolida-se um mundo de duas velocidades. Os ricos vão de Concorde e os pobres sacolejam nos seus teco-tecos. Quando não são, como está ocorrendo com parte da África, simplesmente deixados à margem do caminho.
Até a xerife do comércio norte-americano, Charlene Barshefsky, usualmente impiedosa, admite que os países em desenvolvimento "talvez precisem algum tipo de ajuda para digerir tudo o que já aceitaram fazer".
O diabo é que 85% da população mundial se encontra em países de renda média ou baixa, cujas dificuldades de "digestão" até os EUA admitem.

Texto Anterior: SISTEMA CRIMINOSO
Próximo Texto: O tempo fechou
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.