São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

1997: um ano de chegada

AUGUSTO MARZAGÃO

O ano de 1996 está terminando de dar o seu recado. Agora teremos a etapa final de dezembro, com a rememoração dos fatos ocorridos e as festas natalinas que a caracterizam.
Politicamente, o ano que se despede criou acontecimentos importantes e dinamizou uma série de iniciativas. As eleições municipais dominaram boa parte do cenário, não só pela novidade da urna eletrônica: os resultados do pleito nos principais centros urbanos do país trouxeram assinaláveis novidades.
Dentre estas, predominou a de que o eleitorado, desta vez, seguiu o critério da boa continuidade administrativa, deixando em segundo plano os condicionamentos partidários e ideológicos. A campanha municipal também resultou por influir na própria sucessão presidencial, reaquecendo candidaturas como a do prefeito Paulo Maluf.
Por outro lado, a luta pelas prefeituras envolveu alguns aspectos negativos, destacando-se o atraso no programa das reformas e na decisão de uma série de matérias capitais para os compromissos do governo e os interesses do país.
É extensa a agenda de assuntos pendentes. Os períodos de recesso e as eternas dificuldades de quórum rechearam a pauta da Câmara e do Senado. Muita coisa ficou na metade do trajeto ou não conseguiu ensaiar os primeiros passos.
Devemos pensar, então, em 1997 como o ano que vai desobstruir o caminho das decisões nacionais incompletas e lançar a luz necessária sobre todos os temas que hoje se encontram na penumbra. Não poderemos atravessar mais 365 dias em clima de dúvida, suportando as resistências do obstrucionismo e de quantas manobras se arquitetam contra as mudanças que o Brasil reclama -em certos casos, dramaticamente.
É comum ouvir que o projeto da reeleição presidencial paralisou o país. Isso não é verdade. Basta ver os fatos novos que a imprensa noticia diariamente, seja provindos do Planalto ou do Congresso.
Mas é certo que há um problema de sincronia a resolver. Quer dizer, em vez da fila indiana, o encaminhamento dos projetos deve ocorrer numa avenida de várias pistas paralelas. Reeleição em marcha, sim; mas que também marchem juntas as reformas previdenciária, administrativa e tributária, a reforma política, os diversos lances da reforma agrária, a regulamentação das emendas constitucionais no campo da abertura do petróleo, das telecomunicações, da energia elétrica etc.
Não faz sentido, por exemplo, que até hoje não tenhamos aprovada a lei regulatória da flexibilização do monopólio da Petrobrás. O Senado estuda o projeto do rito sumário para as desapropriações exigidas pela reforma agrária. E assim por diante.
Enquanto há silêncio no foro legislativo, o governo procura atingir parcialmente as suas metas, por meio de medidas provisórias ou de decisões que independem de lei, como o aumento da taxação sobre as terras improdutivas, a desoneração do financiamento das exportações, o programa de demissões voluntárias, a simplificação tributária das atividades das micro e pequenas empresas, as medidas destinadas a reduzir o desemprego, o financiamento da casa própria para a classe média, o acerto das dívidas dos Estados, a solução do "affaire" Banespa, o corte de 85 mil empregados das estatais.
Entretanto, há necessidade de um somatório de esforços em relação a pontos críticos como o déficit público, o endividamento interno, as altas taxas de juros, a modernização dos portos, a precária situação da saúde pública e das estradas. O "custo Brasil" continua sendo um fantasma de complexa exorcização.
1996 ainda foi um ano-ponte, uma travessia. Façamos de 1997 um ano de chegada. Não há mais tempo a perder.

Texto Anterior: CLÍMAX; MERCADINHO
Próximo Texto: Venda da Vale: ausência de estratégia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.