São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 1996 |
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Trovador Donovan retoma carreira musical com 'Sutras'
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Apesar do sucesso constante e intenso desde 65, quando foi revelado, até o início dos 70, sempre foi rotulado como um sub-Bob Dylan em versão britânica -surgiu como típico cantor folk, de melodias delicadas e letras "atuantes" (até o Vietnã ele cantou). Mas logo embarcou no psicodelismo, eletrificando sua música e incluindo ousadias como a de "Mellow Yellow" (67), em que -muitos juravam- Donovan advogava fumar folha de bananeira para ficar doidão. A volta do trovador vem acompanhada de autêntica onda de revalorização de seu trabalho. Donovan, que na entressafra musical atuou como ator de cinema, tem visto canções suas serem incluídas em filmes "Um Sonho sem Limites", de Gus Van Sant, "Os Bons Companheiros", de Martin Scorsese, e "I Shot Andy Warhol", de Mary Harron. Artistas contemporâneos, como a cantora Jewel e as bandas Luna e Hole (de Courtney Love), têm regravado canções de Donovan. Ele próprio volta vitaminado pelo produtor Rick Rubin, 33, que já trabalhou com Red Hot Chili Peppers, Beastie Boys e Run DMC. Mas Rubin não modifica o teor da obra de Donovan, que adota os mesmos moldes dos poemas inspirados na natureza -sempre com dois pés no kitsch e um na poesia- que o celebrizaram. O que há é certo arrefecimento -o artista já não tem gás para pirar no bucolismo medieval daquelas letras repletas de príncipes e princesas, pombas e pés de feijão. E o experimentalismo psicodélico cede espaço ao ritualismo oriental, em faixas hippies como "Nirvana" (não a banda, mas o estado psíquico) e "Eldorado". A voz, enormemente amadurecida, às vezes esbarra em letras como a de "Universe Am I" ("quando um homem na multidão vê que seu caminho está errado, o universo brilha"), que nem Raul Seixas cometeria. Mas em faixas como "Everlasting Sea" e "Please Don't Bend" ainda se faz suspeitar o poder influenciador que o subestimado Donovan exerceu sobre a música, ecoando em David Bowie, Beatles, Doors, Jefferson Airplane, Love, Velvet, Mutantes, Tom Zé. Tal influência não parou no tempo. Basta lembrar que o título de "Mellow Gold" (94), disco-símbolo dos 90 do artista-símbolo dos 90, Beck, é franca referência ao velho "Mellow Yellow". Não há razões para lamentar sua volta. Disco: Sutras Artista: Donovan Lançamento: American/Warner (importado) Quanto: R$ 20 Onde encontrar: Baratos Afins (tel. 011/223-3629) Texto Anterior: Titãs lançam raridades em aniversário Próximo Texto: Municipal traz Celine Imbert como Fosca, de Carlos Gomes Índice |
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