São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Índice

A sensação do momento

MARCELO MANSFIELD

especial para Folha De todas as carreiras do mundo moderno, nenhuma é mais ingrata que a do ator. Aliás, atuar não é uma carreira, é um espasmo entre o colégio e a posterior luta pela sobrevivência numa sociedade que muda de opinião com a mesma velocidade com que muda de meia. É uma "meia carreira".
Em 1929, uma atriz americana chamada Clara Bow recebia uma média de 45 mil cartas de fãs por semana. Três anos depois, abandonava o cinema por falta de público -e isso no apogeu de Hollywood como única diversão popular.
Sucessora maior no quesito "diversão popular", a televisão nunca perdeu tempo com seus sucessos de curta duração, preferindo trocá-los por novidades do momento ao menor sinal de fadiga. Jacqueline Myrna foi o maior exemplo. E, roubando o slogan de "Gilda", nunca houve uma mulher como Jacqueline Myrna.
Tirada do fundo do coro dos musicais para a posição de estrela, Jacqueline (como passou a ser chamada quando sua fama atingiu tal ponto que só o primeiro nome já a identificava), a francesinha de araque (nasceu na Romênia) virou uma sensação da noite para o dia.
Nessa época, conseguiu ter seu próprio programa e participou de novelas como "A Indomável", baseada em "A Megera Domada", de Shakespeare. Ganhou o troféu Roquete Pinto como revelação feminina, trabalhou no cinema, recebeu propostas do exterior, gravou discos e popularizou o bordão "brrrasileirrro é bonzinho".
Quando a sensação passou, ela sumiu. Até sua famosa fala hoje em dia é mais lembrada como uma criação de Kate Lyra (só que com sotaque americano). Aliás, onde está Kate Lyra?
No rastro de Jacqueline Myrna, sumiu Guto. Filho do grande Moacyr Franco, Guto era o garoto que todos os garotos (inclusive eu) gostariam de ser. Ator, cantor e humorista, ele era o que Hebe Camargo chamaria de "uma gracinha".
Sua fama, guardando as devidas proporções, era equivalente à de Mickey Rooney no cinema e à de Sônia Maria Dorsey na nossa TV antes dele.
Com a saída de Moacyr da Tupi, sua carreira nas novelas foi cortada. Depois ele cresceu. Anos depois, tive a oportunidade de ler alguns quadros que escreveu para um programa para a TV Bandeirantes, e o menino prodígio ainda estava lá. E, anos mais tarde, um Guto já adulto estava em "A Praça É Nossa". Que pena. Um talento daqueles num lugar sem talento daqueles.
Aliás, em breve teremos uma coluna só sobre Moacyr Franco. Talvez duas.
Guy Loup fez tamanho sucesso como Isabel Cristina em "O Direito de Nascer" que até mudou seu nome para o nome da personagem. Mas nunca mais conseguiu recuperar o mesmo status como atriz. Como mãe Guy ainda é muito badalada -inclusive por alguns atores.
Assim como Jacqueline, também tinha sangue francês, o que aproveitou no filme "Quatro Brasileiros em Paris" ao lado de Gian Carlo.
A propósito, Gian Carlo foi um dos responsáveis pela consagração do horário das sete, quando representava um playboy em "Antônio Maria". Foi mais um que sumiu sem deixar vestígios.
Se eu pudesse hoje escalar um núcleo de novelas, esse seria: Guy Loup como uma francesa classuda casada com um italiano tipo mafioso chamado Gian Carlo. Eles teriam como filho um garoto prodígio chamado Guto, apaixonado pela imagem de Jacqueline Myrna.
Tudo acessível via Internet, evidentemente. No endereço gian.guy@mirna/guto.com.br.

Texto Anterior: Nudistas invadem praia para anunciar sorvete
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.