São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Entidade critica denúncia

OTÁVIO CABRAL; ROGÉRIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), Elias David-Neto, disse considerar a denúncia publicada ontem na Folha como uma "tentativa de destruir o trabalho para melhorar o sistema de transplantes no Estado de São Paulo".
"Isso é uma queixa que está saindo de um grupo que quer manter o monopólio dos transplantes. O Hospital das Clínicas nunca teve concorrentes, e agora tem. Essa é a equipe que não quer que as coisas sejam transparentes", afirma.
Segundo ele, os hospitais públicos não teriam condições de aumentar o número de transplantes realizados, por já estarem operando no seu limite.
"Eles não têm interesse em aumentar a oferta de órgãos, porque no dia que isso acontecer, vai ficar claro para a opinião pública que outros hospitais públicos também precisam fazer transplantes", disse.
Segundo David-Neto, são jogados fora 1.000 rins, 400 fígados e 400 corações por ano por falta de eficiência no sistema de transplantes.
O médico afirma ainda que o consenso vai aumentar a organização, concentrando na Secretaria da Saúde o monitoramento de todo o sistema.
"Tudo o que foi feito até agora é uma proposta, que foi encaminhada ao secretário da Saúde e está sendo analisada pela procuradoria da Justiça e pelo CRM. Nada disso ainda está em vigor", diz.
O professor da Faculdade de Medicina da USP João Gilberto Maksoud, que faz transplantes no Instituto da Criança, defende a mudança e diz que o sistema atual de distribuição de órgãos é "irracional".
Ele defende a participação de hospitais privados como uma maneira de otimizar a captação de órgãos para transplante. "O Estado não tem condições econômicas e estruturais para melhorar sozinho o sistema de transplante de órgãos", diz.
Atualmente, segundo Maksoud, a Secretaria de Estado da Saúde recebe cerca de 1.900 comunicados de pessoas com morte cerebral que são potenciais doadores de fígado no Estado de São Paulo, mas apenas 180 desses comunicados se efetivam como doadores.
"Se houvesse melhores condições, o número de doadores poderia chegar a cerca de mil por ano", afirmou.
Segundo Maksoud, o consenso aumentaria em três ou quatro vezes o número de órgãos captados.
(OC e RW)

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