São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Vestiário oscila entre tensão e decepção

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE (RS)

O clima no vestiário da Portuguesa era semelhante ao de um velório logo após a partida.
Os jogadores, cabisbaixos, mal tinham ânimo para falar.
A decepção contrastava com o a empolgação da equipe antes do jogo. A reportagem da Folha acompanhou, com exclusividade, a Portuguesa nos momentos que antecederam a finalíssima.
"É duro engolir uma derrota quando estávamos a seis minutos do título", lamentou o goleiro Clêmer. "Foi uma tragédia."
Os atletas reconheceram que o time entrou tenso em campo.
"Não sei o que foi, talvez os gritos da torcida, a pressão que sofremos desde que chegamos a Porto Alegre... O fato é que entramos meio desligados no jogo", disse o zagueiro Émerson.
"Somos jovens e, pelo menos uma vez, temos o direito de dizer que sentimos a pressão", disse o zagueiro César.
"Mas depois melhoramos e poderíamos ter conseguido um resultado melhor."
O técnico Candinho também achou que os minutos iniciais foram decisivos para a derrota. "Levar um gol no começo dá força para o adversário."
Candinho diz que faltou o gol. "Futebol é simples. Podem ridicularizar minha frase, mas foi isso. Faltou o gol."
Para o vice-presidente de futebol Ilídio Lico, o título do Grêmio foi merecido. "Jogavam por dois resultados iguais e conseguiram. Estão de parabéns."
A preparação
Apesar da derrota, a torcida da Portuguesa aplaudiu a saída do time. "Reconheceram nosso esforço. O vice-campeonato foi um feito inesquecível", disse o presidente Manuel Pacheco.
A Portuguesa bem que tentou se preparar para o clima de guerra da torcida gaúcha.
A comissão técnica tentou despistar a torcida do Grêmio, chegando a Porto Alegre antes do horário previsto.
Durante a semana, Candinho anunciara que a delegação partiria para o Sul entre 14h e 14h30.
Ele dizia que o almoço seria na concentração, em São Paulo, e que assim que o time chegasse a Porto Alegre iria direto ao estádio.
O trajeto
O time, porém, deixou o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, às 10h, pousando no Salgado Filho, em Porto Alegre, às 12h.
Um ônibus contratado pelo clube e que esperava os jogadores na pista do aeroporto transportou-os para um hotel no centro da cidade.
No trajeto ao hotel e depois ao estádio, vários torcedores com camisas do Grêmio xingavam o time.
Para controlar a tensão, a ansiedade e a expectativa, a tática era falar bastante.
Valia conversar sobre a torcida, as férias que se aproximavam, a família, o tempo, como em qualquer bate-papo normal dentro de um elevador, ou até fazer piadas dos gritos de guerra dos gremistas.
"Alguém tem que avisá-los que eu sou do Maranhão", brincava o goleiro Clêmer, referindo-se às ameaças contra os paulistas.
Na última hora, já dentro do vestiário do Olímpico, o técnico Candinho, mais do que um estrategista, virou um psicólogo. A análise tática do adversário, as orientações e a estratégia de jogo foram passadas ao elenco em São Paulo e no hotel em Porto Alegre.
No vestiário, a tática era tentar tranquilizar os jogadores, lembrando que eles já tinham ido longe demais na disputa.
O goleiro Clêmer, um dos líderes do grupo, foi, dos jogadores, o que mais palpitou. Além de dar as instruções finais para seus companheiros de defesa, pediu cuidado com a arbitragem.
O preparador físico José Roberto Portella comandou os quase 30 minutos de exercícios dos jogadores dentro do vestiário.
"O ideal seria ter feito o aquecimento dentro do campo, porque o vestiário era acanhado", comentou depois do jogo.
Como o estádio Olímpico era palco de um jogo preliminar, a Portuguesa não conseguiu sair do vestiário.
O Grêmio aqueceu-se no campo de treinamento ao lado do estádio.
A diretoria da Portuguesa levou uma imagem de Nossa Senhora de Fátima ao vestiário para dar sorte.
O grupo de apoio da equipe, formado por roupeiro, massagista, treinador de goleiros e seguranças, acendia velas no vestiário.
No final, além da melancolia, sobraram restos de velas e rosas vermelhas.
"Não deu. Fica para outra. O problema é que eu não sei quando", afirmou Gallo, sintetizando a tristeza lusitana.

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