São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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É o Grêmio, campeão, na medida exata

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É o Grêmio, campeão, na medida exata.
*
Está parecendo aquele escorpião que pede carona no lombo da vaca para atravessar o rio. A vaca reluta, com medo da ferroada fatal. O escorpião argumenta: se eu te ferrar, me ferro junto. Lógica irrefutável. No meio do rio, porém, a vaca sente a picada mortal e, num último alento, muge sua perplexidade: por quê? O escorpião, desalentado, responde: sei lá, é a minha natureza.
Neste caso, se o escorpião é o Palmeiras, a vaca, obviamente, é a Parmalat. Montado no lombo da multinacional, o Palmeiras saiu do escuro buraco onde se metera 16 anos antes, atravessou todas as adversidades, descobrindo o atalho para voltar ao primeiro plano da cena do futebol brasileiro, onde permanece há pelo menos quatro anos.
Ganhou títulos, perdeu outros, mas se impôs como um modelo de administração invejado por todos os demais clubes brasileiros. E é exatamente no meio dessa gloriosa travessia que se manifesta a verdadeira natureza do cartola brasileiro: uma compulsão irrefreável de -por vaidade ou estultice- dar a sua ferroada mortífera.
Resultado: perdeu, de uma só tacada, o técnico Luxemburgo -profissional de rara competência- e o diretor de futebol, Seraphim Del Grande, sereno ponto de equilíbrio entre o clube e seu patrocinador.
Ah, Mustafá, Mustafá...
*
Quem saiu ganhando com isso tudo foi o Santos, que, como peru na roda, há anos gira em torno de si à procura de um técnico capaz de arrancá-lo desse círculo vicioso de escolhas paroquiais.
Fez um contrato de gente grande e só resta agora mantê-lo, contra as velhas e asmáticas pressões do barbeiro da esquina, do conselheiro de bermudas e chinelos que frequenta a Vila nos fins de tarde, enfim, dos eternos palpiteiros.
E mais: com a contratação de Zetti, o mais bem equipado arqueiro deste país, retoma uma tradição que vem dos tempos de Veludo e Gilmar e que se estendeu por Cejas, Cláudio, Rodolfo Rodriguez etc.
Fala-se, também em Ronaldão e Bentinho. Pelo visto, o peixe está pescando em águas límpidas e generosas.

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