São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Pittuf

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Candidato, Pitta injetou o futuro na cabeça do eleitor. Faria de São Paulo um Éden entrecortado por trenzinhos voadores.
Eleito, meteram-no em uma saleta da prefeitura. Diz-se que não é uma saleta qualquer. Serve de escala para o mictório do prefeito.
Suponha que Maluf queira, digamos, hummm..., lavar as mãos. Não chegará à pia e ao sabonete sem antes dirigir a Pitta um "olá".
Assim, Pitta planeja o futuro desde uma sala que serve de trilha para que o passado vá ao banheiro. Seria suportável se parasse por aí.
O 1º de janeiro está a um passo. Pitta já fareja o dia em que cruzará, ele próprio, a malfadada sala rumo a um sanitário que, então, será todo seu. Ocorre que não fica nisso. Há mais e pior. Conforme Pitta vai tomando contato com os negócios da prefeitura, a saleta vai ganhando ares de porão.
Um subterrâneo fétido. E o fedor não vem do banheiro. Salta das práticas políticas. Vem das administrações regionais.
Espécies de subprefeituras dos bairros, as regionais têm, nas mãos de vereadores, dupla serventia: são máquinas de votos e usinas de corrupção.
Pitta age como leão diante da presa. Quer intervir nas regionais. Uma atmosfera de borrasca se armou na Câmara. Vereadores podaram o orçamento, abriram uma CPI.
Pitta manteve a juba eriçada. Mas Maluf miou. Convidou os chantagistas à prefeitura. Na entrada, batiam o pé. À saída, levitavam.
Pitta tem a palavra. No campo da ética, registre-se, seu comportamento atiça a dúvida: faz despesas maiores que o bolso, tricota com Calim Eid, mantém no cargo Reynaldo "Empreiteiras" de Barros.
Pitta migrou do admirável mundo virtual de Duda Mendonça para o hediondo universo real da política. Seu desafio: montar o novo com ferramentas velhas. Não é impossível. Mas também não é fácil como se apregoou na TV.

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