São Paulo, segunda-feira, 16 de dezembro de 1996
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Cidadão x consumidor (1)

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - "O imperialismo hoje não tem mais país-sede, pode mudar sua matriz para qualquer ponto do globo dependendo das possibilidades políticas e geográficas. O capital está ligado multinacionalmente. O imperialismo geográfico foi praticamente liquidado depois da Segunda Grande Guerra. Mais de cem países se tornaram independentes, se bem que muitos 'entre aspas'. O imperialismo teve nesta segunda metade do século duas tremendas derrotas: o Vietnã e o Afeganistão. A Tchetchênia está aí para confirmar. Resta o mais antigo dos imperialismos: o domínio cultural, o 'quinta-colunismo' ideológico, o fazer cabeças, o mercado dominando os governos. Os meios de comunicação e os meios da educação permanente é que estão construindo o novo brasileiro: o consumidor."
A citação não é de nenhum cientista político, de nenhum teórico da economia. Tirei-a do livro de Fernando Pamplona, que estou lendo no original para fazer a apresentação.
Não se trata de um tratado, mas de um depoimento sobre as escolas de samba do Rio.
Como se sabe, depois de ter ganho o Prêmio do Salão de Belas Artes (viagem ao exterior), ele deu uma guinada, continuou artista erudito, mas mergulhou de cabeça e alma nas raízes da cultura popular e mexeu fundo no conceito e na prática de nossas festas tradicionais.
Depois que o Serjão, semana passada, admitiu que há muito tempo não usava a palavra "imperialismo", mas a usou assim mesmo, acho que o trecho pinçado do texto do Pamplona, justamente por ser tão simples, é oportuno.
Outro dia, numa reunião de trabalho, discutia-se se o leitor de jornal deve ser o cidadão ou o consumidor. Uma loja, um supermercado não tem este tipo de dúvida. Uma nação tem sempre de se perguntar se é feita de cidadãos ou apenas de consumidores.

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