São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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Estado vai fazer 'piscinões' antienchente

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

A construção de tanques de retenção de água na cabeceira de rios e córregos é a solução encontrada pelo governo estadual para combater as enchentes na região metropolitana de São Paulo.
As obras -semelhantes aos "piscinões" feitos pela prefeitura da capital- fazem parte do Plano de Macrodrenagem proposto pelo secretário estadual de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras, Hugo Marques da Rosa, 48.
Em conjunto com a administração do prefeito eleito Celso Pitta, ele pretende adotar o modelo francês de controle de enchentes. A idéia principal consiste em reter a água no local de origem, impedindo que um volume excessivo escoe rapidamente e inunde os rios.
Em entrevista à Folha, Rosa conta como será a parceria com Pitta.
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Folha - Qual é a tendência hoje no combate às enchentes?
Rosa - É uma volta de 180 graus no processo atual, que prevê a canalização de córregos e a construção de avenidas de fundo de vale, porque isso só aumenta a velocidade da água e piora a situação dos rios principais. Em vez de fazer obras perto da desembocadura, temos de interferir no processo e reter a água das chuvas na cabeceira.
Folha - Como se faz isso?
Rosa - Com tanques de retenção, segurando a água e só liberando quando o leito volta ao normal.
Folha - Seriam "piscinões" como o do Pacaembu, construído pelo prefeito Paulo Maluf?
Rosa - Não, porque na obra que você citou não é possível controlar a saída da água. Você fica à mercê da lei da gravidade, que libera a água ininterruptamente. É preciso administrar a liberação.
Folha - O senhor se reuniu com o prefeito eleito Celso Pitta há duas semanas para discutir a implantação do Plano de Macrodrenagem. O que foi decidido?
Rosa - Tivemos uma conversa muito boa. Ele manifestou a intenção de continuar o trabalho conjunto e integrado.
Folha - Vocês decidiram qual a área de atuação de cada governo?
Vocês decidiram qual a área de atuação de cada governo?
Rosa - Precisamos de um plano único. O Estado vai repassar o levantamento feito pelo consórcio Hidroplan e a prefeitura se comprometeu a concluir o planejamento de obras, que deve ficar pronto em um ano e meio.
Folha - Mas o início das obras ainda demora muito?
Rosa - Não. As primeiras ações começarão durante esse período. Vamos construir alguns dos tanques de retenção e faremos a integração de dados dos radares meteorológicos, que nos permitirá prever com exatidão a ocorrência de chuvas e repassar a notícia à mídia eletrônica, para que as pessoas se previnam nos dias de chuva.
Folha - Por que as obras de desassoreamento (retirada de lixo e detritos do leito do rio) do Tietê estão paradas?
Rosa - Porque logo que assumimos o governo as obras pararam por atraso no pagamento às empreiteiras. Além disso, o Tribunal de Contas do Estado já havia julgado os contratos ilegais e tivemos de fazer nova licitação. Optamos por um processo de reutilização da areia na construção civil para reduzir o custo, mas houve problemas na licitação e só vamos implantar o novo modelo em 97.
Folha - Então nada foi feito para minimizar as enchentes durante esse período?
Rosa - Retiramos 280 mil metros cúbicos de sedimentos no Tietê, no último verão. Entramos em 96 com uma condição razoável, não a ideal.
Folha - Os pontos de alagamento verificados na semana retrasada demonstraram que o leito do Tietê está alto.
Rosa - Mostraram também que a calha não tem capacidade para receber o volume de água que vem dos córregos, mesmo limpa. No trecho Penha-Aricanduva do Tietê, a capacidade da calha é de 350 m3 por segundo e a necessidade em função da água que chega é de 560 m3. Precisamos aprofundar a calha (o governo quer entregar a obra no início de 99), fazer obras de contenção nos afluentes no Tietê e manter o rio desassoreado. São ações que se completam.

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