São Paulo, segunda-feira, 23 de dezembro de 1996
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Justo que o 'mais querido' seja a melhor equipe

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Mengo, tu é o maió!" -declamava a caricatura do malandro carioca morador daquele edifício que balança, balança, mas não cai, construído sobre as potentes ondas da rádio Nacional dos anos 50 pelo fanático torcedor do Ameriquinha Max Nunes.
Naqueles tempos, de Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, doutor Rúbis, Índio, Benitez e Esquerdinha, ou já Evaristo e Zagallo, o Mengo era uma festa. Como havia sido nas décadas anteriores, de Zizinho a seus ilustres antepassados. Mas, assim, preto no branco, na soma fria dos números, como esta Folha decretou ontem, nunca.
Segundo o ranking lançado ontem por este jornal, fica estabelecido que o Flamengo é o maior mesmo, dentre os brasileiros. Não apenas o "mais querido", dono da maior torcida do Brasil, mas o maior ganhador dentro do campo; o maior, entre os campeões e vices do país inteiro, em todos os tempos. Isto é: até onde foi possível apurar.
Nada mais justo, para um clube que projetou craques como Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Mestre Ziza e Zico, para ficarmos com apenas quatro monstros sagrados.
E nada mais oportuno do que o empreendimento da Folha, já que o ranking da CBF é absolutamente desconfiável.
Só falta agora dar um passo além e abarcar o mundo, que anda tresloucado nos cabalísticos cálculos daquele alemão que toca o Instituto de Estatísticas do Futebol Internacional (sei lá se o nome é esse mesmo) sabe Deus como.
Pois não é que o homem outro dia colocou o Corinthians como o clube brasileiro mais bem classificado na sua esotérica lista deste ano? Pode? Logo o Corinthians, doutor Fritz?
*
Então ficamos assim: o Flamengo é o maior vencedor da história; o Cruzeiro é o vencedor do Campeonato Brasileiro 1; o Grêmio, o campeão do Campeonato Brasileiro 2; e o Palmeiras fica com o melhor elenco e a melhor campanha, se somarmos o Paulista ao Brasileiro 1.
Sim, porque nós tivemos claramente dois torneios nacionais: um, de longo curso; outro, de tiro curto. E, se cotejarmos os vencedores desses dois certames, veremos que são dois opostos no estilo e nos resultados. O Cruzeiro, mais faceiro, alegre, fluente; o Grêmio, mais sólido, compacto, competitivo. É como se comparássemos, no atletismo, um fundista com um sprinter.
É bem verdade que este Grêmio ganhou um toque de versatilidade e mais contundência no ataque. Mas, como diria João Gilberto, a base é uma só.
*
Que mistérios tem esse maldito cargo de técnico de futebol que faz de um jogador inteligente, hábil, dono de raro senso de colocação e oportunidade, como era Daniel Passarella, numa besta quadrada quando senta no banco?
Quem viu a Argentina penando para arrancar um empate, de pênalti, contra o Chile, em Buenos Aires, e depois vê esse Fernando Redondo, senhor feudal do meio-campo, deslizando pelo gramado com graça, talento e raça, vestindo a camisa do Real, certamente terá "ganas de llorar" um pranto de tango gardeliano, uterino, atávico, infindo.

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