São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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Dólares mais estáveis

CELSO PINTO

Uma das armas com que o governo conta para enfrentar a necessidade cada vez maior de dólares, além dos investimentos diretos, são financiamentos de mais longo prazo de agências governamentais, tipo Eximbank, e bancos multilaterais.
Durante os anos 80, da crise da dívida externa, esse dinheiro minguou nos bancos multilaterais e secou na maioria das agências governamentais. Os cofres reabriram e estão se transformando numa alternativa importante.
O ministro do Planejamento, Antônio Kandir, lembra que a soma dos empréstimos aprovados pelo Banco Mundial (BIRD), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Eximbank japonês e OECF (agência japonesa) somarão US$ 4,416 bilhões neste ano. O que significa um aumento de 57% sobre os US$ 2,815 bilhões do ano passado.
Empréstimos aprovados não significam desembolso imediato, mas sem uma carteira importante de projetos não há como aumentar o fluxo de recursos dessas instituições. O comitê na Seplan que examina projetos passíveis de financiamento externo (Cofiex) aprovou um total de US$ 6,5 bilhões neste ano.
Em termos absolutos, o maior volume de empréstimos aprovados ficou com o BID: US$ 1,686 bilhão neste ano, um aumento de 7% sobre US$ 1,582 bilhão no ano passado. O BID tem tido uma presença cada vez mais importante no país. Para o próximo ano, o banco garante a aprovação de uma carteira de empréstimos de pelo menos US$ 2 bilhões. O Cofiex já tem uma lista de projetos no valor de US$ 3,6 bilhões para negociar com o BID.
O envolvimento do Banco Mundial, comparativamente, é bem menor, embora o salto, em termos relativos, seja mais significativo. Neste ano, o total de empréstimos aprovados chegará a US$ 918 milhões, o dobro dos US$ 462 milhões do ano passado.
O salto mais impressionante é o do Eximbank japonês: de US$ 400 milhões em 95 para US$ 1,266 bilhão neste ano. O Eximbank financia exportações japonesas e joint ventures de empresas japonesas no Brasil. A aproximação recente do Brasil com o Japão ajudou a ativar essas linhas e a acelerar seu desembolso.
O OECF é uma agência japonesa que financia, especialmente, projetos de natureza social, de combate à pobreza. O Brasil, pela renda per capita, não seria mais beneficiário, teoricamente, desses empréstimos. Para manter as portas abertas, a estratégia tem sido a de concentrar as negociações em projetos na área de meio ambiente, onde o critério da renda per capita é menos relevante. A carteira de empréstimos aprovados pelo OECF pulou de US$ 372 milhões em 95 para US$ 547 milhões neste ano.
Como se calcula que o Brasil precisará de algo em torno de US$ 50 bilhões brutos, no próximo ano, para financiar suas contas externas, a contribuição dessas fontes de recursos está longe de ser decisiva. Tem tido, de todo modo, importância crescente. Se tudo der certo, os US$ 4,4 bilhões de empréstimos aprovados por essas quatro fontes poderão dobrar no próximo ano, o que levaria o total a algo equivalente a toda entrada de investimentos diretos neste ano.
Privatização
A discussão sobre a privatização tem-se concentrado na Vale do Rio Doce. O grande filé da privatização do próximo ano, contudo, serão as distribuidoras de energia elétrica.
Supondo que não haja grandes obstáculos inesperados, a venda de distribuidoras de energia, especialmente nos Estados, poderá render algo em torno de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões, o dobro do que deverá render para o governo a venda de sua parte na Vale.
Quando o BNDES fez adiantamentos para estados por conta de privatizações futuras, foi bastante criticado. O mínimo que se disse é que o BNDES estava trocando dinheiro na mão por promessa de venda futura.
O fato é que o BNDES assinou convênio com 17 Estados. Destes, 13 Estados já obtiveram autorização de suas assembléias estaduais para tocar seus programas de privatização, e 10 deles já começaram o processo.
Na área federal, a única empresa elétrica que poderá ajudar na lista das privatizações do próximo ano é Furnas.

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