São Paulo, terça-feira, 24 de dezembro de 1996
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O último mês de vida do peru Nicolau

FÁBIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Nicolau, um legítimo peru caipira criado em um sítio em Atibaia (65 km ao norte de São Paulo), passou por um processo "artesanal" de crescimento, antes de ser levado ao forno pela aposentada Remédios Garcia San Romãn, 88.
Ele foi criado junto a gansos, marrecos e galinhas no galpão da Avícola Paco.
Detalhe: seu ovo foi chocado por uma galinha, já que as peruas nem sempre são boas mães, abandonando seus ovos. Comia capim, folhas de alface e milho.
"O bicho foi criado solto quase a vida inteira, mas recebeu total atenção dos funcionários", conta Francisco Gago, dono da Avícola Paco. Segundo ele, foram nos últimos 30 dias de vida que Nicolau recebeu os preparativos para a ceia de Natal.
Engaiolado, ele veio para o Mercado Municipal (região central de São Paulo) e ficou à exposição dos compradores -ao preço de R$ 30. Lá, recebia ração e água em quantidades determinadas.
Seu relacionamento com os outros perus na gaiola nem sempre foi amistoso. Quando brigava, a barbela (pele do pescoço) ficava azulada, demonstrando que ele estava nervoso.
Um peru caipira quase não recebe hormônios de crescimento na ração, diferentemente dos criados por frigoríficos. Estes, são alimentados com vitaminas e minerais e atingem peso para o abate (cerca de 3 kg) com 70 dias de idade.
Na semana passada, com um ano e meio de vida e pesando exatos 6,046 kg, Nicolau estava pronto para o abate.
A carne é um pouco mais dura e tem um sabor mais forte que a do peru dos frigoríficos. Segundo Elizabeth Torres, 38, professora do departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo, sua carne está entre as mais saudáveis.
Enquanto 100 g de coxa assada de peru possui 79 mg de colesterol (gordura altamente prejudicial ao coração), a mesma quantidade de pernil grelhado registra 94 mg.
Na cozinha de Remédios, uma espanhola que ainda preserva os hábitos da culinária européia, Nicolau foi temperado com cebola, salsinha, tomate, pimentão e pimenta, muita pimenta malagueta.
"O papo, recheio com farofa. Fica uma delícia. Para mim, Natal só existe com peru", diz.
(FS)

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